
A receita é muito simples
só precisa de atenção
comece batendo no liquidificador
um litro de água com um limão
Adicione quatro dentes de alho
um temperinho a mais não faz mal
Então coloca pimenta do reino
E também uma pitada de sal.
Tem a máxima que diz “Trabalhe com algo que você goste e você não terá que trabalhar sequer um dia da sua vida”.
Eu a alteraria para “Trabalhe com algo que você goste e você deixará de gostar daquilo”.
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Aí você abre uma empresa com seus amigos mais próximos. E percebe que quando sai com eles agora só fala da empresa. E um dia, num bar, decidem que vão falar de qualquer coisa, menos da empresa. E aí todos ficam sem assunto e levanta-se aquele silêncio constrangedor. E aí você não consegue lembrar do que vocês conversavam antes.
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Aí você começa a pensar que precisa aproveitar os bons momentos e o processo de aprendizagem: Aquele curto período enquanto seu negócio novo ainda não acabou, arruinando sua carreira, destruindo suas amizades e falindo sua família.
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Aí um amigo te liga oferecendo um projeto para desenvolvimento. E ele pergunta o valor da sua hora. E aí você passa o valor da sua hora. E ele reclama que está muito caro e você lembra ele que você tem anos de experiência, que tem experiência internacional na área, que fala cinco línguas e o escambau. E ele responde “Dane-se se você fala francês, alemão, japonês ou klingon! Eu só preciso que você fale Java!”.
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Aí alguém liga no seu celular querendo falar com a Tatiana. É engano. Então você aproveita que já tá falando com alguém e tenta vender o seu produto para a pessoa.
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Aí você gosta de escrever. Então você começa a escrever um livro – porque não, afinal?
Aí você começa o seu livro sem saber direito como ele vai terminar. E o livro vai indo muito bem e você já tá montando o final na sua cabeça. Aí você percebe que tá deturpando a personalidade dos seus personagens e percebe que para ter o final sensacional que pensou no meio do livro vai ter que alterar o começo. Aí você altera o começo. Aí você decide matar um personagem que era irrelevante, mas para dar mais impacto, você começa a adicionar capítulos dele numa preqüência da história. Aí vai tudo ficando mais confuso e todo mundo ficando com cada vez menos personalidade. Aí você vai se desanimando pra escrever, porque precisa revisar seu livro todo desde o começo. Aí você pára de escrever.
Aí você marca um horário na sua semana pra trabalhar no seu livro. Aí nesse horário você escreve sobre a história dos tomates e sobre os motivos pelo qual você não está trabalhando no seu livro. E seu livro tá lá, estagnado.
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Aí você explica pra sua mãe sobre esse monte de projeto que você está fazendo e é por isso que você anda tão ocupado. E sua mãe recomenda que você largue desse monte de idéia estúpida e vá procurar um emprego estável e decente, afinal é pra isso que você estudou nos últimos 20 anos e você tem capacidade de coisa melhor. E você responde que “porra, mãe, você podia ao menos torcer pros meus negócios darem certo” e ela responde que “eu estou torcendo, filho. Mas vai dar tudo errado. Tudo errado.”
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Aí você vai num cliente em potencial que seria importante para o bom andamento do seu negócio. Aí você se atrapalha todo e confunde o seu cliente com você mesmo. É. Foi isso.
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E um dia sua mãe entra na cozinha comentando sobre o garoto de 17 anos que ficou milionário vendendo um sistema pro Yahoo e complementa perguntando “Por que você não inventa alguma coisa que ninguém tenha inventado antes e fica milionário também?”…
Boa idéia, mãe. Boa idéia.
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E, de repente, todo mundo gosta de salada…
O tomate é uma fruta (há controvérsias), da espécie Solanum lycopersicum e da mesma família do pimentão e da pimenta (que, supostamente, também seriam frutas). Devido ao aumento do preço nos últimos meses, o fruto, conhecido na Alemanha como “maçã do paraíso”, virou sensação nas redes sociais e na mídia. Afinal, depois que se transformou em sinal de status, todo mundo passou a gostar de salada.
Mas a história do tomate é muito mais ampla e interessante do que parece. Pra começar, não é só o preço que é venenoso: O caule e as folhas possuem glicoalcalóides, uma substância tóxica que causa fraqueza, confusão e pode levar ao coma e à morte.
Robert Johnson
A bem da verdade, durante muito tempo na América, acreditou-se que o tomate era mortalmente venenoso. Até o dia 26 de setembro de 1920, quando o Coronel Robert Gibbon Johnson, um cidadão honorário do condado de Salem, em New Jersey, subiu as escadarias da prefeitura e, na frente de um público que acredita-se ter chegado a milhares de pessoas, fez um ato de coragem desmedido para os padrões da época e comeu um tomate inteiro. Inteiro.
Consigo imaginar a sociedade conservadora tomatofóbica da época, abismada com a ousadia daquele rapaz, xingando muito nos pombos correios e postando revoltadas mensagens em muros com os dizeres “Robert Johnson não me representa”. Um camponês da época iria declarar “Aonde vai parar esta sociedade? Hoje comemos tomates e amanhã homens estarão fazendo sexo com outros homens!”
Evidentemente, o senhor Johnson não morreu (não naquele dia e não por causa de comer tomates – espero), e o povo (mesmo aquela parcela mais religiosa da população) começou a perceber que tomate não é venenoso e, mesmo que alguém não gostasse dele, ter outra pessoa comendo não afeta em nada a liberdade alheia, e continuaram suas vidinhas, agora com ketchups, bolonhesas e molhos de pizza presentes numa sociedade evidentemente mais feliz.
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O primeiro estágio que eu consegui foi uma daquelas péssimas vagas do CIEE. Era uma vaga pra extrair relatórios da equipe telemarketing da Caixa Econômica Federal, no estação Brás. Lembro que fui fazer a entrevista no dia do meu aniversário de 18 anos. Me fizeram umas perguntas, me mandaram pra fazer uma provinha um tanto quanto desafiadora (sem ironias) em Excel e depois mais algumas perguntas baseadas no resultado da prova.
Logo que cheguei percebi que aquele não era emprego pra mim. Detesto bancos e aquele ambiente cinza e chato nunca me agradou (e ainda não agrada). Porém eu fui contratado após o seguinte diálogo com a entrevistadora:
– Você quer trabalhar aqui?
– Não.
– E que dia você pode começar?
Fico imaginando se não querer trabalhar no lugar era pré-requisito pra trabalhar por lá… ou se ela sequer chegou a ouvir minha resposta.
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Não fiquei nem um mês nesse estágio. Na semana que eu entrei, eles trocaram todo o time de telemarketing por conta de fim de contrato. Como é empresa do governo, eles tinham que fazer uma licitação pra definir a próxima empresa. Como são funcionários públicos, a licitação demorou mais de um mês, então eu não cheguei a trabalhar de verdade.
Logo na primeira semana comecei a fazer testes, chegando 15 minutos atrasado, e depois, saindo 10 minutos mais cedo. E fui evoluindo até chegar uma hora atrasado e sair uma hora mais cedo. Tenho a impressão que, quando eu saí de lá, ninguém realmente percebeu que eu tinha chegado a trabalhar por lá.
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Aquela senhora devia já ter entrado na casa dos 40 anos. Usava sempre uma saia e os cabelos negros ligeiramente grisalhos sempre se encontravam em um coque atrás da cabeça. Todas as noites de quartas e sextas-feiras ia na livraria, na seção de Literatura Nacional e pegava um livro de contos e crônicas. Lia um ou outro de pé e, se achasse algum que lhe agradasse particularmente, sentava-se numa das confortáveis poltronas da livraria e lia mais alguns contos. Às vezes, gostava tanto de um livro que se dedicava a ele por algumas semanas, sem nunca comprar nenhum, porém.
Um dia, um vendedor a abordou:
– Boa noite, senhora. Já viu o novo livro do Luis Fernando Verissimo?
– Oi, desculpa?
– Luis Fernando Verissimo. Gosta dele, não? – e estendeu um livro na direção dela.
– Eu? – a mulher olhou o vendedor de olhos meio arregalados. Guardou as crônicas de Mário Prata de volta na estante e pegou o livro em mãos, com um olhar meio fascinado. – Gosto sim… Obrigado!
Nas próximas duas semanas, ela lia somente aquele livro em suas visitas à livraria. Na visita em que terminou de ler o livro, cruzou com o mesmo vendedor após guardá-lo de volta na prateleira. Não se conteve em dizer:
– Ótimo livro! Obrigado!
Ficaram amigos e na outra semana, o vendedor recomendou um do Millôr Fernandes também.
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Alguma iniciativa brotada sabe-se lá onde e difundida pelas redes sociais nas últimas semanas tenta espalhar na cabeça da população a suposta boa idéia que é ter o metrô de São Paulo funcionando 24 horas por dia.
O sistema de transporte público na cidade é fraco, deficiente, caro, lento e inefetivo. A malha metroviária é pequena, apesar do serviço ser muito bom. Ninguém discute que, para o sistema se tornar medíocre, muita coisa precisa melhorar.
Mas metrôs abertos 24 horas por dia não são uma solução e nem uma alternativa viável. É uma idéia utópica e impossível na atual situação.
Durante um projeto, já tive que passar boa parte de uma madrugada na estação Santa Cecília, linha vermelha. O trabalho não termina quando as portas da estação se fecham – muito pelo contrário. Uma legião de funcionários invade as estações para o trabalho de limpeza e manutenção das linhas. Um trem especial, chamado “esmerilhador” transita pelas linhas em baixa velocidade com a intenção de corrigir e prevenir deformidades na via. É um serviço de manutenção lento e necessário. (link: http://www.metro.sp.gov.br/tecnologia/manutencao/logistica.aspx)
Há um segundo aspecto: é REALMENTE necessário? Qual o índice de uso da linha verde numa terça-feira às 3h da manhã? Esse serviço extra geraria um custo que teria que ser repassado à população de alguma forma.
O autor preparou seu exército de caracteres. Letras, espaços e vírgulas, alinhados, enfileirados, como se formassem uma gigantesca parede de escudos. O campo de batalha estava formado, escrito e articulado, com parágrafos planejados e uma estratégia de combate de dar inveja a Sun Tzu.
O editor estava do outro lado, sozinho contra todos. Apesar do discurso de liberdade editorial, todos sabiam que ia ser uma luta difícil. A licença poética estava em jogo. Mesmo com a diferença numérica, a batalha seria dura e o editor não queria dar chances para o texto.
Começou matando um aposto. A canetada era esperada. As letras se uniram: o quilômetro se abreviou para salvar alguns caracteres; um adjetivo se excluiu em um auto-sacrifício por um colega menor e semelhante. O espaçamento se espremeu para parecer mais unido, mas mesmo assim o editor invadiu o texto, ignorando as sentenças bem articuladas. Ele prosseguiu com seu ataque: Quebrou uma linha de raciocínio, separou dois parágrafos e usou o veículo como argumento pra remover uma frase que não seguia seu pensamento.
O autor interferiu: Reclamou que o ontem não poderia substituir o ante-ontem só para salvar caracteres. O editor ameaçou trocar o ontem por hoje pra reduzir ainda mais. O autor cedeu. O editor se animou: Excluiu um paragráfo inteiro, cortou uma frase longa em três, moveu a introdução para o lugar da conclusão e a conclusão foi deletada.
O autor chorou ao ver o massacre. As palavras já começaram a ficar perdidas no meio da bagunça provocada pelo editor. Um advérbio bateu numa vírgula e ficou sem saber para onde ir. O próprio autor misericordiosamente retirou ele de cena. Desesperadamente, começou a jogar novos caracteres em campo, com esperança de salvar a idéia. Não era religioso, mas pensou em novas orações. Um novo sujeito apareceu para resgatar um predicado. O editor continuava excluindo. Separou idéias, removeu aspas, discordou de um depoimento.
A batalha estava perdida. O argumento desapareceu. A esperança era ao menos salvar a conclusão, para terminar com algum sentido. O editor foi impiedoso: Não restavam caracteres ao autor. “Eu preciso de um final decente! Tendes piedade!”, clamou o autor para o sentimentalismo. O editor recusou: “São as normas do veículo. Não há espaço.”. Os caracteres, cabisbaixos e serifados em Times New Roman não identificavam mais seus semelhantes. Até o título foi trocado. Numa última investida se apertaram para tentar encaixar um final. O editor não cedeu e o texto fic
É engraçado como cada país da Europa têm os seus hábitos etílicos bem definidos: a Escócia tem sua paixão por uísque, a Bélgica tem suas cervejas trapistas, a França e seus vinhos, a Alemanha e suas weiβbier, a Inglaterra e suas “real ales” a Rússia e a Polônia com suas vodkas e a Irlanda consumindo em excesso qualquer coisa que contenha alcóol, deixando irlandeses bêbados buscando brigas em bares.
A cerveja é uma parte importantíssima da vida cotidiana alemã. Hitler instituiu as reuniões do partido nazista em uma cervejaria. Ele mesmo não bebia, mas sabia que se quisesse captar a atenção do povo, o lugar que ele teria que ir eram os bares. Em Munich, todo trabalhador tem o direito de beber até 500ml da bebida em horário de trabalho. Um dos mais antigos decretos alimentares do mundo é a Reinheitsgebot, a lei da pureza da cerveja alemã, promulgada em 1516 e válida até hoje.
De todas as cidades alemãs, Munich é certamente a minha favorita. Sou fã das tradições bavárias, da arquitetura antiga e reconstruída da cidade, das biergartens, da Oktoberfest, das “alemãzinhas de olhos lindos, meu amor!” e das histórias e lendas em torno da cerveja. Uma de minhas histórias preferidas remete ao ano de 1823, durante o reinado do meu rei alemão favorito: Ludwig I.
Eu nunca compreendi perfeitamente o futebol americano. As regras são muito complexas e dependem muito de critérios meio subjetivos, que incluem faltas por “força desnecessária” e zonas imaginárias aonde os jogadores podem ou não lançar a bola.
Tal como as mulheres, a apreciação deve ocorrer ignorando-se as partes que não conseguimos entender. Basta saber que a o esporte é uma mistura de pega-pega, sumô e rouba-bandeira. A base dele é a conquista de território, definido por “jardas“, unidade de medida em que cada jarda corresponde a 0,9144 metro.