O continente esquecido
Capítulo do livro “O Continente Esquecido”, com relatos organizados de uma viagem que fiz pela África em 2014.
Se alguém algum dia disser que é uma boa idéia cruzar o leste africano de trem, duvide.
Viajar pelo continente por terra sempre é um desafio e uma aventura. Os ônibus são confusos, as linhas às vezes simplesmente não existem, os horários são meramente fictícios, sem contar o calor africano e o desconforto dos veículos mal-conservados. As raras opções de trem não parecem ser diferentes, a julgar pela minha ineficiente aventura na Tazara Railway, ferrovia que liga uma das cidades mais importantes da Tanzânia com o absoluto meio do nada na Zâmbia. Os vagões têm décadas de uso, os trens quebram com freqüência e os atrasos são praticamente uma certeza. Meu trem, por exemplo, tinha a partida agendada para as dez da manhã, mas só saiu da estação ao meio dia, totalizando um atraso de vinte e seis horas.

Para meus propósitos, era o roteiro ideal: partir das praias paradisíacas e savanas lotadas de animais selvagens da Tanzânia em direção ao meu próximo destino africano, as maravilhosas quedas d’água de Victoria Falls, no sul da Zâmbia, na fronteira com o Zimbabwe. Porém, as informações sobre o trem são praticamente nulas e nem mesmo algumas agências turísticas da Tanzânia pareciam ter conhecimento da existência de tal possibilidade de viagem. Em alguns momentos, cheguei a pensar que a linha não existia e era uma criação de minha mente perturbada.