Estátuas que vou lutar pra não derrubarem

Como viajante, sou um grande entusiasta de estátuas e monumentos. Ainda mais nas terras abarrotadas de história como as do continente europeu, a impressão que dá é que alguns lugares tiveram mais estátuas do que reis.

Nem toda figura histórica que recebe uma estátua é, porém, um cidadão iluminado, livre de defeitos, uma pessoa bacana com quem adoraríamos tomar um cappuccino em uma tarde de outono. Muito pelo contrário, dependendo da época que estamos falando, a maioria eram calhordas da pior espécie, racistas, genocidas, bandidos, traficantes ou pessoas que andavam com o guarda-chuva aberto debaixo de toldos. Uma estátua pode sim ser encarada como um endosso: não pega bem pra Bélgica manter uma estátua do Leopoldo II – assim como talvez não pega bem pra Rússia deixar o corpo embalsamado do Lenin na praça vermelha, mas que é interessante ver como o feladaputa era pequeno, ah isso é. Mas assim como outras formas de arte, tais quais livros, filmes, quadros e peças de teatro, os monumentos podem ser vistos como um momento travado no tempo de uma era – e como a representação de um marco histórico de grande importância. Mais do que uma homenagem, vale a sua representação: Churchill tinha lá seus defeitos, mas é inegável que ele merece seu monumento; Tiradentes possuía seus escravos, mas o simbologismo de sua morte precisa ser lembrado; tem ainda uma estátua do Napoleão em Paris; e, pelo amor de deus, pesquisa um pouco pra não acabar depredando uma homenagem para alguém que lutou justamente a favor das mesmas causas que você.

Dado esse ponto, eu também sou a favor de trazer abaixo algumas representações históricas que não cabem mais em tempos atuais. O simbologismo por trás do ataque à estátua de Edward Colston em Bristol é lindo e fortíssimo e, ao contrário do Laurentino Gomes, eu até topo trazer pro chão o Borba Gato e colocar no lugar uma outra estátua, talvez uma estátua de 10 metros de um gato chamado “Borba” pra não dar tanto trabalho pra mudar as placas, é só inverter as palavras. Destruir algo é um sinal de mudança muito maior do que construir algo: a união recente da Alemanha se deu pela queda de um muro pela população; o símbolo da queda do Saddam foi a derrubada de sua estátua; a Revolução Francesa começou com a tomada da Bastilha, uma fortaleza medieval que foi completamente destruída, não sei se Luis XVI ia realmente perder a cabeça com um protesto pacífico e a manutenção de um patrimônio histórico francês tão imponente.

A Pedra do destino

Quem visita o castelo de Edinburgh tem a oportunidade de passar por uma sala na qual é possível ver as jóias da coroa em exibição. As fotos são proibidas, mas os visitantes podem ver um valiosíssimo cetro de 1494, uma reluzente coroa de 1540 e uma pedra. Um paralelepípedo de pedra tedioso, de 66cm x 42cm x 27cm, pesando cerca de 150kg, de um arenito enfadonho, com um anel de ferro em cada extremidade.

Que belíssimo exemplar de pedra

Eu não poderia me importar menos com jóias, mesmo que elas sejam mais velhas do que o Brasil, mas a história dessa pedra é o tipo de atração turística que mereceu minha atenção.

Desoxirribonucleico

Em uma tarde fria de novembro eu estava sentado à minha mesa do escritório que trabalhava em Berlim, esfregando vigorosamente um cotonete na parte interna de minhas bochechas. Apesar de um ou outro olhar mais curioso de meus colegas de trabalho, eles simplesmente me ignoravam e prosseguiam em seus afazeres. Depois de dois anos trabalhando lá, o fato de eu estar empenhado em atos estranhos não surpreendia mais ninguém.

Eu estava efetuando os procedimentos indicados pelo kit do myHeritage que eu havia recebido aquela semana. O myHeritage é uma empresa israelense de genealogia, que cria uma plataforma para que seus usuários criem árvores genealógicas, façam buscas em acervos familiares históricos e até busquem por parentes desconhecidos, entre outras utilidades.

Depois de 60 segundos esfregando o cotonete na bochecha esquerda, coloquei-o em um tubo de ensaio fechado, e repeti o processo com a bochecha direita. Fechei tudo no envelope e depositei no correio, usando o envelope internamente protegido com papel-bolha que faz parte do kit.

Há 20 anos, fazer um exame de DNA podia custar até R$10 mil, geralmente bancados pelo empresário Carlos Massa para gerar pancadaria no programa do Ratinho. Hoje diversas empresas oferecem kits para que os usuários recolham suas próprias amostras de corpo humano e enviem para a extração do código genético em laboratórios do outro lado do mundo. Dependendo do método e da empresa e da promoção aproveitada, o exame pode sair bem barato: por conta de uma promoção de Black Friday, o exame que eu fiz custou apenas 40 euros. A concorrência e o trabalho em larga escala ajudaram muito a baixar o preço dos exames. A maior dessas empresas, a Ancestry, possui ações na bolsa e um valor estimado de 3 bilhões de dólares (em 2017).

a Disney cristã

No coração da capital mundial dos parques temáticos, cheios de montanhas-russas, atrações modernas, shows suntuosos, áreas planejadas pensadas nos mínimos detalhes, magia e diversão para onde quer que se olhe, fica a recriação literal da Terra Sagrada. Holy Land Experience é um parque temático cristão, localizado próximo aos mundialmente famosos Universal Studios e Walt Disney World.

O mundo mágico de Jesus Cristo

O parque foi aberto em fevereiro de 2001 pelo russo Marvin Rosenthal, um judeu convertido. O terreno do parque pertence a Marvin desde 1989, mostrando que a idéia de uma recriação da Terra Santa próxima ao Mundo Mágico® já vinha de longe. Rosenthal também é fundador da “Zion’s Hope”, uma entidade dedicada a converter judeus ao cristianismo. Com esse background, no dia da abertura a Holy Land sofreu protestos de grupos judeus.

Holy Land, porém, não ficou muito tempo nas mãos de Marvin: em 2007 ele vendeu a atração para a Trinity Broadcasting Network (uma emissora americana cristã) por um valor estimado de 37 milhões de dólares. Na época, o prejuízo do parque era calculado em cerca de 8 milhões de dólares e a emissora planejava expandir e melhorar as atrações e construir na propriedade uma central de transmissão do canal para a Flórida, além de um estúdio para a produção de filmes cristãos.

Bette Davis v Joan Crawford: Dawn of tretas

É uma época de polaridades. São coxinhas contra petralhas, #TeamCaptain contra #TeamIronMan, Carreta Furacão contra Furacão 2000. Em tempos de tanto ódio e tantos confrontos épicos cinematográficos, é bom relembrar um dos confrontos mais marcantes do cinema: Bette Davis contra Joan Crawford.

Aos fãs da sétima arte é difícil imaginar que os atores e produtores de filmes tenham divergências tão comuns quanto as que nós mesmos possuímos em nosso dia-a-dia no trabalho. Da mesma forma como a gente odeia aquele cara que puxa o saco do chefe ou aquele programador ineficiente que fica escrevendo babaquices em seu blog pessoal ao invés de corrigir a animação do side menu do aplicativo, também no glamuroso ambiente cinematográfico há diretores machistas, atores que não se bicam ou roteiristas que detestam produtores que mexem nas suas idéias. São razões conflituosas tanto ou até mais válidas do que odiar aquele cara do marketing porque ele criticou sua marmita (desculpa se meu macarrão não parece tão apetitoso quanto aquele que sua mãe fazia na Itália, seu maldito).

Alfred Hitchcock, por exemplo, sempre dizia que “Atores são gado”. A atriz Faye Dunaway brigou tanto com o diretor Roman Polanski durante as gravações de Chinatown que em um momento ela atirou uma xícara de urina na cara dele. Rachel McAdams e Ryan Gosling se odiavam tão profundamente durante as gravações de Diário de uma paixão que a melhor forma que encontraram para magoarem-se mutuamente foi começarem um relacionamento.

"magina, miga! você tá linda!"
“magina, miga! você tá linda!”

Mas a treta entre Bette Davis e Joan Crawford foi algo muito mais profundo do que esses fetiches pontuais de mijar em uma xícara e atirar na fuça de um desafeto. Mais do que simples rivalidade, as duas nutriam pela outra um ódio quase irracional.

Beber é o melhor remédio

Taí um protesto que eu iria!
Taí um protesto que eu iria!

Há muito tempo a medicina já permanece quase unânime em relação aos benefícios que duas taças de vinho diárias podem fazer ao coração. Mas, em defesa das outras biritas, não é só o vinho que pode trazer benefícios à saúde, mas qualquer tipo de álcool. A ciência nas últimas décadas vêm estudando a fundo o efeito das bebidas na saúde humana e os resultados apontam uma vida mais saudável para o pessoal que gosta de entornar um caldo.

No livro “Drop Dead Healthy“, o autor A.J. Jacobs narra sua saga ao tentar se transfomar na pessoa mais saudável do mundo. Ele segue conselhos e pesquisas fortemente embasadas e apresenta dados surpreendentes. O álcool é citado no livro como sendo um “vício saudável”, em uma lista que também englobava chocolates, video-games, sonecas e deixar a cama desarrumada.

Até a Bíblia se mostra a favor do álcool, de acordo com estudo feito por Daniel Whitfield, um enófilo cristão que fez um estudo exaustivo sobre todas as menções alcóolicas bíblicas. São 247 entre o novo e o antigo testamento; dentre elas apenas 40 referências negativas, totalizando 16%. As referências positivas são 145, o equivalente a 59%, e envolvem, entre outras, a abundância de álcool como um sinal da benção de Deus e a ausência dele como um sinal de uma maldição divina. Os 25% restantes são referências neutras. [Fonte: The Year of Living Biblically (A.J.Jacobs)]

Álcool faz bem. Cada vez mais pesquisadores vêm descobrindo isso. É sempre bom destacar que os estudos de benefícios de um goró obedecem uma curva gráfica ligeiramente complexa: O exagero pode ocasionar em alcoolismo e em efeitos não tão positivos à saúde, mas quem bebe com moderação apresenta menor taxa de mortalidade do que os abstêmios.

O conceito de moderação, entretanto, também varia entre os indivíduos e depende da bebida. No caso da cerveja, por exemplo, 600ml diários é uma quantidade que você pode entornar tranquilo. Mais do que isso já varia de pessoa para pessoa – porém, experiências próprias apontam que, quanto mais você beber, melhor ficam suas histórias.