Recentemente, uma amiga publicou em seu facebook um punhado de frases seguidas de um pedido para que, se algum amigo dela concordasse com qualquer uma daquelas frases, que a excluísse do círculo de amizades imediatamente.
Obviamente que eu não a excluí. Não acho que a opinião de uma pessoa sobre um assunto seja um fator assim tão crucial na definição de nossas amizades, mesmo aqueles amigos que têm opiniões ao meu ver extremamente cretinas, como homofóbicos, anti-semitas ou admiradores de música sertaneja.
Alguma iniciativa brotada sabe-se lá onde e difundida pelas redes sociais nas últimas semanas tenta espalhar na cabeça da população a suposta boa idéia que é ter o metrô de São Paulo funcionando 24 horas por dia.
O sistema de transporte público na cidade é fraco, deficiente, caro, lento e inefetivo. A malha metroviária é pequena, apesar do serviço ser muito bom. Ninguém discute que, para o sistema se tornar medíocre, muita coisa precisa melhorar.
Mas metrôs abertos 24 horas por dia não são uma solução e nem uma alternativa viável. É uma idéia utópica e impossível na atual situação.
Durante um projeto, já tive que passar boa parte de uma madrugada na estação Santa Cecília, linha vermelha. O trabalho não termina quando as portas da estação se fecham – muito pelo contrário. Uma legião de funcionários invade as estações para o trabalho de limpeza e manutenção das linhas. Um trem especial, chamado “esmerilhador” transita pelas linhas em baixa velocidade com a intenção de corrigir e prevenir deformidades na via. É um serviço de manutenção lento e necessário. (link: http://www.metro.sp.gov.br/tecnologia/manutencao/logistica.aspx)
Há um segundo aspecto: é REALMENTE necessário? Qual o índice de uso da linha verde numa terça-feira às 3h da manhã? Esse serviço extra geraria um custo que teria que ser repassado à população de alguma forma.
Isto é uma resposta à deselegante picardia escrita pela genial (e lindinha) Vanessa Barbara. Seu texto (o dela, não o seu; a não ser que seja a própria Vanessa que estiver lendo, aí seria efetivamente o seu) é preconceituoso, esquerdista e ruculofóbico, a despeito de ter sido tão eximiamente bem escrito. E, por mais que me doa uma acusação deste nível, é importante deixar claro que a obra da supracitada jornalista é recheada de inverdades.
Todo mundo gosta de uma boa polêmica, por mais que afirme o contrário. Essas grandes questões acalentam as discussões nas mesas de bares, nos programas desportivos, nas mesas redondas televisivas e destroem alguns casamentos e amizades de anos. Mas, por conta de uma característica própria do ser humano que adora tomar partido em alguma coisa, convém sempre elas serem discutidas.
“iPhone ou Android?”, “Jessica Rabbit ou Lola Bunny?”, “Votar no Maluf ou atirar-se na linha do trem?”, “Na sua casa ou na minha?, SUA LINDA.”… Eu adoraria fazer uma síntese enumerando diversas questões desse tipo, mas percebi que estava praticamente copiando o argumento introdutório rival, então vou passar logo à questão “Agrião ou rúcula?“.
Vamos às brássicas:
O agrião, é bom deixar claro, sempre foi uma hortaliça de cunho elitista, presente em grandes banquetes reais dos séculos passados. É um vegetal tão fresco que sua parte folhosa só começa depois de um longo caule, como se tentasse ficar sempre por cima. A rúcula é o exato oposto: uma folha serrada se extendendo junto com o caule, como se toda a planta quisesse dizer “Estamos juntas nessa! Vamos até a terra buscar nossa seiva!”
A rúcula é viril, é inteligente, é forte e dominante. Foi banida de mosteiros porque acreditava-se que era afrodisíaca. E talvez realmente seja. O consumidor típico de agrião pode até passar uma mensagem fofinha, daquelas que o Greenpeace ou a PETA tentam vender em suas campanhas. Mas é o apreciador de rúcula que vai revolucionar o mundo. O comedor de rúcula deixa uma impressão de “Não estou satisfeito com a atual situação do planeta e vou fazer alguma coisa para mudar!”.
A rúcula não vai murchar e tornar-se intragável se você quiser adicioná-la em sua pizza. Ela vai para o forno com uma felicidade de fazer inveja à muzzarela e volta à sua mesa como se dissesse “Me chama de caprese e me devora!”. É a salada dominante. É o folhoso sociável, bem aceito com a linguiça do churrasco, com aquele sanduíche de queijo minas, com uma degustação hedonista de queijos e vinhos finos ou até como apetrecho ilustrativo em alguma sobremesa mais pitoresca.
A rúcula não é só povo. Ela também é classe média, classe alta e classe baixa. Ela nasce nas juntas de calçadas como se quisesse servir a todos.
Obrigado, rúcula! Algumas pessoas podem não ver que você está se esforçando para deixar nosso mundo um lugar melhor; mas você está fazendo a sua parte!