O telhado de vidro da casa do rato

Recentemente, a Disney destruiu uma das melhores franquias de herói do cinema ao demitir seu produtor/diretor/roteirista/visionário James Gunn por conta de piadas ofensivas postadas na rede social do passarinho azul Twitter entre os anos de 2007 a 2012.

É particularmente marcante o quanto esse parágrafo me deixa indignado, uma vez que ele é recheado de itens aos quais eu tenho o que pode ser chamado de um amor irritante: Adoro o James Gunn, assisto tudo quanto é filme de herói, sou perdidamente apaixonado pela Disney, o Twitter é minha rede social favorita, os anos de 2007 a 2012 moldaram meu caráter e tem pouquíssimas coisas que eu goste mais na vida do que piadas ofensivas. Talvez só queijo.

relaxa. é só maconha.

Piada tem dono?

Reportagem de Tatiana de Mello Dias
Originalmente publicado no caderno LINK, do Estado de São Paulo, no dia 02 de julho de 2012
http://blogs.estadao.com.br/link/piada-tem-dono/

Uma sacada no Twitter e pronto: a piada se multiplica. Mas qual é o direito do autor?

SÃO PAULO – “O amor é a gasolina da vida: custa caro, acaba rápido e pode ser substituído pelo álcool.” A frase do blogueiro Paulo Velho ganhou o mundo, mas seu nome não foi citado em lugar nenhum. Escrita num tweet pela primeira vez em 2010, a piada ganhou novos donos, foi parar em um programa de rádio, virou comunidade no Orkut e até frase do personagem de Charlie Sheen na série Two and a Half Men, através de um aplicativo no Facebook.

“Foi um misto de surpresa com orgulho”, conta Paulo Velho. “Primeiro o orgulho de descobrir que alguém realmente lia o que eu escrevia. Depois a surpresa de descobrir que alguém ainda se atrevia a repetir as minhas piadas. É muita coragem.”

O triste fim de uma piada

Na noite de ontem, o mundo acompanhou atônito a morte de uma piada. A relação do Corinthians com a Libertadores vinha divertindo gerações há anos e, apesar de já estar perdendo sua força por conta da repetição, ela nunca chegou a perder a graça, todos os anos conseguindo se renovar um pouco, com a ajuda de times colombianos e chorosos torcedores.

Funeral de piada
Boas piadas também morrem.

O desespero é grande no mundo do humor. A construção da arena do Corinthians já vinha sendo motivo de preocupação. Com estádio e Libertadores, as jocosas referências dos outros times vão ter que focar em alguma outra coisa que os corinthianos não tenham, tais como: ficha limpa na justiça, ensino médio, dentes ou pai.

“Acredito que vamos ter que nos reciclar agora. Se o Niemeyer morrer e a Preta Gil emagrecer, vou ter que jogar fora tudo o que eu construí durante toda minha carreira”, declarou um humorista de twitter que preferiu permanecer anônimo.

A adaptação é rápida, entretanto. Após ganhar uma Libertadores, por exemplo, um corintiano não desliga mais seu PlayStation, só retorna de seu indulto.

Apesar das recentes dificuldades que o esporte vêm apresentando ao mundo do humor, a classe não tem medo da escassez de anedotas. “Ainda temos a política”, disse um desconhecido humorista de qualidade questionável, “A política nunca falha em nos revoltar e prover-nos de conteúdo para piadas.”

Haters gonna hate
Use nos comentários toda a sua falta de habilidade em interpretação de texto.

Pensamentos da Angel Station

Há uma estranha tradição londrina que faz os ônibus mudarem o ponto final deles no meio do caminho. Costuma acontecer com mais freqüência do que devia e você é simplesmente abandonado na metade do trajeto. Por sorte, a malha de transporte público londrina é invejável, então, quando numa terça-feira eu fui abandonado na Angel Station (a caminho de Barbican), foi fácil adaptar minha rota.

Quadros de avisos nas estações estão presentes para mostrar informações sobre atrasos, problemas de funcionamento nas linhas ou fechamento temporário de estações. Várias manutenções estão sendo feitas preparando a cidade para as Olimpíadas, então é meio comum trechos do underground serem fechados em alguns dias.

O quadro de avisos na Angel Station me chamou atenção aquele dia. Ao invés das informações ao usuário, ele continha uma piadinha, daquelas dignas de twitter. “If heat makes things expand, then I’m not FAT… I’m just really HOT!“, dizia.

Diariamente os funcionários da estação, todo fanfarrões, atualizam o quadro com uma gag, um trocadilho, um pensamento novo… Citando frases de Albert Einstein a Homer Simpson (tenho minhas dúvidas de quem seria mais genial), as mensagens entretém os sisudos passageiros londrinos. Às vezes é mais útil do que reportar pequenos atrasos.

customer information
AVISO: Metrô de Londres informa!

Um blog com as frases diárias entrou em funcionamento ano passado: http://thoughtsofangel.com/. Alguns exemplos de mensagens que já foram publicadas no quadro:

  • Don’t go to bed angry. . .  Stay up & plot your revenge
  • Childhood is like being drunk. Everyone remembers, except you!
  • Why does the government try to stop us drinking and smoking. But then moan that we are living too long???!!!
  • My wife and I were happy for 20 years… Then we met.
  • If you feel like doing some work. Sit down and wait… the feeling soon goes away.
  • I still miss my ex… But my aim is improving.
  • “I feel sorry for people that don’t drink… Because when they wake up, that’s the best they’re going to feel all day.” (Frank Sinatra)
  • When I was born I was so surprised… I didn’t talk for a year and a half.
  • There is a fine line between fishing and just standing on the shore like an idiot.
  • When your ex says you’ll never find anyone like me, reply that’s the point!
  • A bus station is where a bus stops. A train station is where a train stops. I have a work station…
  • The trouble with being punctual  it’s that nobody is there to appreciate it.
  • Is it true that cannibals don’t eat clowns because they taste funny?

(Não traduzi pra não perder alguns trocadilhos ótimos)

A estação de overground Shoreditch também usa seu quadro de avisos para colocar fanfarronices. O tumblr http://boardscribe.tumblr.com/ tem algumas pérolas da estação, apesar de estar terrivelmente desatualizado.

Rebecca Black has a new song
Nem sempre as mensagens são positivas.

Gostei da iniciativa. Talvez funcionasse por alguns dias no Brasil, até algum usuário se sentir ofendido e processar a estação.

Pequeno manual de humor ofensivo

O brasileiro sempre teve dificuldade em definir os limites do humor, mas no passado estava tudo bem porque as pessoas costumavam se concentrar em coisas realmente importantes, como a fome mundial, as guerras e os 12 problemas bucais que um ser humano pode ter. No entanto, ultimamente, a patrulha do politicamente correto – formada por pessoas com uma grande falta de sexo e um ainda maior excesso de tempo – vem se dedicando a estudar as piadas que circulam por aí.

Mate o piadista!
“Nossa! Pensei numa piada ótima agora!”

Com um tridente numa mão, um crucifixo na outra e gritando “Fogueira aos humoristas!”, a Patrulha Aburguesada Unânime (PAU) tenta impor limites às piadas que os humoristas têm contado. Em revide, a frente dos Humoristas Inconsequentes Moderados E Negativistas (HIMEN) tenta bater de frente com ela, empurrando os limites do humor para o mais longe possível.

Como nas lutas entre PAU e HIMEN, esse último costuma perder, nós resolvemos criar esse “Pequeno Manual do humor ofensivo” para auxiliar o grupo dos humoristas a entender até onde eles podem ir nas suas piadas:

O amor é a gasolina da vida ~ A epopéia de uma piada

Já convivemos há um bom tempo com a internet. A rede surgiu a partir de pesquisas militares na decáda de 60, no auge da Guerra Fria. Em 29 de outubro de 1969 foi enviado o primeiro e-mail da história. Provavelmente era SPAM ou alguma corrente com um ppt, porque travou o computador que o recebeu. Mas a verdadeira explosão da internet se deu na década de 90. E a internet é realmente sensacional! Conteúdo de graça, pra ser produzido e compartilhado com todo mundo.

Quem nunca espalhou uma piada que leu na internet? Eu mesmo roubava várias piadas do HumorTadela e contava para amigos cada vez mais chateados com minhas inconvenientes piadinhas fora de hora. O HumorTadela, por sua vez, roubava de alguma outra fonte, que por sua vez, roubava de outra e assim por diante. É praticamente impossível definir onde nasce uma piada. Isso é bem comum. Veja Chico Anysio, por exemplo, tido como um humorista genial (e realmente é), iniciou sua carreira no humor simplesmente traduzindo textos de stand-ups americanos. A internet dificultou muito o trabalho de quem rouba o texto de um humorista famoso. Se algum cara do stand-up nacional for tentar emplacar com um texto de Bill Cosby ou do genial George Carlin, acho que não vai conseguir ter muito sucesso. O Brasil está passando por uma boa fase no humor, com ótimos textos autorais escritos por Danilo Gentili, Rafinha Bastos, Marcelo Mansfield, Maurício Meirelles, entre outros. Se você chega em algum churrasco contando aquela do “Boa noite, passageiros, aqui é o Comandante Nogueira”, todo mundo sabe que você não é um babaca criativo, mas é simplesmente um babaca.

"Old man yells at cloud"
Direito autoral de piada: Não tem nem de quem reclamar

Por outro lado, é cada vez mais difícil provar que uma criação é sua. Na internet, as piadas não possuem direitos autorais. É a lei do mais pop. Sites como o Kibeloco cresceram em cima das piadas alheias. E, quando a Web se tornou 2.0, tudo ficou mais difícil: Todo mundo produzindo conteúdo, e muita gente boa produzindo conteúdo bom. As piadas curtas, frases geniais e trocadilhos infames invadiram sites como o twitter, criadas por ilustríssimos desconhecidos, deixando tudo mais fácil para certas pessoas que vivem do humor alheio (né, José Simão?).

Quando eu era pequeno (mesmo, lá pelos meus 12, 13, 14 anos) eu adorava a coluna do José Simão, na Folha. Escrevia vários e-mails pra ele com piadas e, vez ou outra via uma piada que eu tinha mandado por lá publicada. “Olha mãããeeee! O Simão publicou outra piada minha!”, e lá estava no jornal minha piada crua ou simplesmente antecedida de “e um amigo me disse que…”. Beleza! A piada era minha, mas ninguém tinha como saber disso. Parei de mandar. Hoje em dia o Simão rouba, descaradamente, sem trocar uma vírgula, diversas piadas de caras geniais do twitter, como o @silviolach ou o @amatos30. José Simão, inclusive, é um jornalista tão peculiar que consegue escrever um texto usando apenas três teclas do teclado. A primeira é Ctrl. Deduzam as outras duas.