Em julho de 2016, estive na Abkhazia para fazer minha primeira cobertura jornalística, na Copa de Futebol do Mundo, organizada pela CONIFA. A matéria final foi publicada na revista SuperInteressante de setembro/2016, edição 365. (link).
No começo da década de 90, após a dissolução da União Soviética, a Georgia conseguiu sua independência. Menor que o estado de Santa Catarina e localizada a leste do Mar Negro, fazendo fronteiras com a Rússia ao Norte, Turquia e Armênia ao Sul, Azerbaijão a Leste e banhado pelo Mar Negro ao Oeste, o país está em uma região aonde começa a ficar obscuro se estamos na Europa ou na Ásia.
As tensões entre Rússia e Georgia, entretanto, não cessaram com a independência. Em 2008, a crise diplomática entre os dois países explodiu em uma guerra, resultando em algumas centenas de mortos (ambos os lados divergem entre os números) e alguns milhares de refugiados – em sua maioria, georgianos que foram expulsos das regiões separatistas.
A Abkhazia é uma dessas regiões. Ligeiramente maior do que o Distrito Federal e com uma população de pouco mais de 200.000 habitantes, ela virou um popular destino de turistas da classe média russa, que fazem uso de seus resorts e praias. A Abkhazia declarou sua própria independência em 1999, apesar dela só ser reconhecida como um país por Rússia, Nicaragua, Venezuela, Nauru (uma ilha da Micronésia), e dois outros territórios separatistas: Transnistria na Moldova e South Odéssia (a outra região separatista da própria Georgia).
A Copa do Mundo de não países
“Cara, vai ter uma Copa do Mundo de não-países”, disse Alain, quando eu fui visitá-lo em Köln em janeiro de 2016. Oras, esse é exatamente o tipo de evento que me chama a atenção. Entrei no site oficial do evento (http://worldfootballcup.org/) atrás de tickets, mas me deparei com uma mensagem dizendo que os tickets online só seriam disponibilizados posteriormente (no final nunca foi possível comprá-los pela internet). Havia porém um link para “media accreditation”, o qual eu fui petulante o bastante para clicar e enviar uma requisição. Foi assim, depois de convencer a organização que eu era um jornalista freelancer que eu consegui uma credencial de imprensa pela primeira vez em minha vida.
Não tive alternativa senão começar a planejar a melhor forma de chegar à Abkhazia. Porém não é uma tarefa tão simples. O aeroporto de Sukhumi, único público do país, não recebe muitos vôos internacionais e as fronteiras são complicadas de ultrapassar. Nem a internet ajudou nessa tarefa: não é um destino turístico muito popular e raríssimas páginas exibiam dicas em outras línguas que não fossem russo.
Em julho de 2016, estive na Abkhazia para fazer minha primeira cobertura jornalística, na Copa de Futebol do Mundo, organizada pela CONIFA. A matéria final foi publicada na revista SuperInteressante de setembro/2016, edição 365. (link).
Na ocasião, como jornalista amador, consegui fazer uma entrevista com o secretário geral da CONIFA, o alemão Sascha Düerkop. “Ah, você mora em Berlim! Vou finalmente poder conversar com alguém na minha língua materna?” exclamou ele, com felicidade, ao me encontrar pela primeira vez. Mas não. Meu domínio da língua germânica ainda é pior do que minhas capacidades jornalísticas, então a entrevista ocorreu em inglês mesmo, na tarde de um sábado, na sala de imprensa do estádio de Sukhumi durante o período de intervalo entre dois jogos.
Sascha foi extremamente simpático e atencioso e muito da entrevista pôde ser aproveitado na matéria final. A seguir, a entrevista completa:
Entrevista com Sascha Düerkop
Secretário geral da CONIFA
(julho/2016)
PAULO VELHO: A FIFA possui 211 associações. Isso é muito mais do que a quantidade de países reconhecidos pela Nações Unidas. Isso é porque a FIFA tem diferentes definições sobre “o que é um país”. Como isso funciona para a CONIFA? O que a CONIFA considera um país? SASCHA DÜERKOP: Nosso principal conceito sobre esse assunto é perguntar às pessoas sobre com o quê elas se identificam. Então são os times que mandam as aplicações para nós e deve haver um certo grupo de pessoas representados por eles. Deve haver uma identificação entre um povo e nação que os representam na CONIFA. A FIFA possui regras diferentes da ONU, o Comitê Olímpico também tem regras diferentes, então realmente não há uma definição clara do que é um país ou uma nação. Então o que fazemos é perguntar aos times, perguntar às pessoas “Com o que vocês se identificam? O que vocês sentem que são em seus corações?” e eles podem formar uma seleção nacional e com isso enviar a inscrição para a CONIFA.
A hora e a vez daqueles que não têm do que reclamar
Desde junho, o Brasil tem visto um incontável número de manifestações com as mais diversas justificativas e reivindicações. Tudo começou com os protestos contra o aumento da tarifa do transporte público, mas logo surgiram outras demandas como o fim da corrupção, a necessidade de reforma política, o repúdio à pec 37, a desmilitarização da polícia e a democratização dos meios de comunicação, passando por questões petrolíferas, financeiras, educacionais e caninas. Nunca foi tão fácil ser um Popular Exaltado (piauí_55, abril 2011), aquele sujeito que cospe, xinga e faz discurso em cima do caixote, julgando-se permanentemente ultrajado.
Nos últimos meses, tivemos uma passeata pela volta dos militares, uma marcha da família contra o comunismo, uma tentativa de levitação do Palácio dos Bandeirantes e um ato contra a Copa de 1954.
Só nos faltou uma coisa, e é o que viemos aqui reivindicar: uma passeata que contemple a discreta (e sempre excluída) minoria satisfeita.
Não estamos nos referindo aqui aos latifundiários, aos banqueiros, aos donos de empresas de ônibus e aos que gastam 50 mil reais por noite numa balada, já que estes têm cada vez mais do que reclamar: o aumento do iptu, a ameaça do metrô em Higienópolis, a popularização da rúcula com tomate seco, a revista Veja que passou a vir fora do plástico; tudo isso é fonte de stress e incerteza para a fatia mais abonada da população, que vem perdendo seu lugar ao sol para os beneficiários do Bolsa Família.
Falamos daqueles cinco ou seis indivíduos que nunca têm do que reclamar, que estão sempre contentes com a vida em termos gerais e não se deixam abalar por congestionamentos, filas e vazamentos nucleares. Oriundos dos mais diversos estratos sociais, o que não parece fazer diferença, são sujeitos tranquilos e sempre sorridentes, absolutamente confortáveis com sua condição sobre a Terra. Eles não possuem porta-voz, não têm agenda de reivindicações e nem motivo para protestar. Por isso mesmo devem sair à rua, precisamente para dar amplidão à sua distinta voz, incompreendida e marginalizada pelos que estão sempre achando sarna para se coçar.
Isso não quer dizer que sejam alienados e reacionários; apenas não veem necessidade de se cansar com infinitas demandas e embates hostis. São estoicos e não botam a culpa em ninguém; acham graça em tudo o que veem e riem diante das dificuldades.
A marcha dos satisfeitos acontecerá numa tarde de sol, de chuva ou de terremoto (tanto faz) e até o momento conta com as presenças confirmadas do meu sobrinho de 4 anos, um programador de computadores, um carteiro, uma jovem francesinha e três senhoras nipônicas plenas de serenidade existencial. (Taxistas e barbeiros estão intrinsecamente impossibilitados de participar.) Será uma marcha pacífica, amigável e unânime, repleta de cartazes com os dizeres: “Estamos satisfeitos”, “Nada a reclamar”, “Estou bem, e você?”, entre outros.
Ninguém se queixará de fome, sede, joanete, vontade de fazer xixi. Alguns caminharão com as mãos nos bolsos, chutando pedrinhas e assobiando uma velha canção. Outros, mais combativos, repetirão bordões como: “Eu já falei, vou repetir/ Eu já falei, vou repetir.”
Em vez de Black Blocs, a linha de frente será formada por uma célula de hare krishnas tocando mrdanga e dançando de sandálias, felizes da vida. Logo atrás, um grupo de monges franciscanos e de idosos em excursão, seguidos por seus cachorros.
O trajeto da passeata não será previamente definido, mas para onde for está bom. Rumores darão conta de que o grupo pretende andar até Pouso Alegre ou Várzea Feliz. Eles caminharão pela calçada e apreciarão o belo trabalho efetuado em termos de manta asfáltica.
Contudo, o cansaço irá provocar baixas. Uma simples bolha no pé pode incomodar certo passante que, uma vez insatisfeito, será forçado pela própria consciência a ir embora. Braços cansados de erguer cartazes ameaçarão durante todo o trajeto a resistência física dos participantes, que não cederão sequer a um inconveniente fraquejar do bíceps. Não haverá queixumes constrangedores como o registrado numa manifestação recente, em que um militante exaurido pediu à linha de frente: “Ô, pessoal, vamos parar por aqui, fechar a rua num protesto sentado… Sério que vocês querem andar mais?”
Não haverá dissidências, discordância de pautas e nem líderes do movimento. A massa acatará com alegria toda sugestão de rota indicada pela polícia. Ao passarem diante de hospitais, todos farão silêncio e rezarão pelos enfermos.
Durante a passeata, aliás, ninguém será hostil com os transeuntes. Em vez de: “Quem não pula quer tarifa”, a turba irá ponderar: “Quem não pula, tudo bem! E quem pula, bom também!”
Partidarismo não será um problema: a marcha contará com a presença apenas de partidos políticos totalmente satisfeitos, o que não deve existir na sociedade atual.
A grande imprensa irá registrar uma única ocorrência de discórdia: um sujeito que, convenhamos, começou a elogiar demais tudo o que estava aí, cruzando perigosamente a linha de quem possui uma reivindicação. Ele portava um cartaz com os dizeres: “Estou tão feliz que não me importaria se piorassem um pouco a situação econômica.”
Sua postura causou celeuma imediata e convidaram-no a se retirar do ato, junto com os que reclamaram do cartaz.
A polícia estará presente, e terá seu trabalho efusivamente elogiado. Se houver repressão, será recebida com grande disposição de espírito. “Este gás lacrimogênio realmente limpou minhas vias aéreas”, dirá um. “Mais pra esquerda”, dirá outro, enquanto apanha com o cassetete nas costas. A manifestação se dispersará por caminhos que manterão todos satisfeitos, e terminará na hora em que acabar.
Numa época em que reclamar e odiar é algo tão popular, nossos bravos satisfeitos estarão por aí, verdadeiros heróis da sociedade. Serão criticados, chacoteados por humoristas e receberão títulos ofensivos, mas não se importarão. Ao contrário: ficarão lisonjeados.
No dia seguinte, o prefeito mencionará o ato em pronunciamento à tevê e afirmará enfaticamente que suas portas estão abertas para toda e qualquer crítica do grupo.
Escrito em conjunto com:
Vanessa Barbara
Este texto foi escrito em parceria com Vanessa Barbara.
Vanessa é jornalista e escritora, colunista do International New York Times e da Folha de S.Paulo. Publicou Noites de Alface, da Alfaguara e comanda o editorial folhoso A Hortaliça – http://www.hortifruti.org/
Na história criada por Alan Moore e ilustrada por David Lloyd (transformada posteriormente em um ótimo filme), o protagonista usa uma máscara baseada numa figura histórica do século XVII. Pelo contexto do enredo, a face mascarada ficou popularmente conhecida como símbolo de revolta do povo, usada para representar o levante da população perante um governo. Assim, a história de “V de Vingança” acabou endeusando a figura de Guy Fawkes. Mas antes de sair por aí com uma máscara de uma personalidade histórica, seria melhor conhecer a história desse terrorista católico extremista, que, se não tivesse falhado com seu plano, teria destruído em 1605 não só o parlamento inglês, mas tudo ao redor num raio de até 490 metros.
Guy Fawkes nasceu em 1570, em York. Seu pai morreu quando ele tinha apenas oito anos. Anos depois, sua mãe casou-se de novo com um católico fervoroso, que não aceitava a religião anglicana na Inglaterra. Por influência do padrasto, Fawkes converteu-se ao catolicismo e deixou a Inglaterra para lutar pela Espanha Católica durante a Guerra dos oitenta anos, nos países baixos. Nesse período de guerra, sob o nome de Guido Fawkes, se tornou especialista em explosivos. Ainda nessa época, participou de uma tentativa frustrada de restaurar o catolicismo no Reino Unido. Foi quando conheceu Thomas Wintour, um dos personagens que também participaria da chamada “Conspiração da Pólvora”.
Ah! As mulheres! O que seríamos de nós, pobres homo sapiens ávidos produtores de testosterona, se não fosse por elas. Mulheres têm um poder fascinante sobre os homens, capazes de fazer até o mais másculo soldado espartano se derreter por um belo par de seios. Nenhum problema com isso. O problema está no fato delas saberem disso.
É da natureza feminina também a competitividade. Para elas, não basta estarem certas: elas têm que provar que os homens estão errados. E nós caímos feito patinhos. Não há nada mais chato do que discutir com uma mulher. Em qualquer relacionamento saudável – e especialmente nos relacionamentos não-saudáveis – uma discussão, às vezes, é inevitável. As mulheres dependem disso: Elas adoram discutir! Eu tenho uma teoria de que elas precisam constantemente discutir para praticar. Até acho que elas desenvolveram entre si a “Grande Cartilha de Táticas Femininas de Discussões”, na qual trago os principais tópicos e ensinamentos usados pelas mulheres:
SÓ PARA MACHÕES
Lama, hipotermia e choque elétrico na corrida mais difícil do mundo
Era um domingo de inverno em Perton, Staffordshire, uma localidade a 20 minutos de Wolverhampton, na Inglaterra. Uma fina camada de gelo cobria alguns pontos dos lagos que faziam parte do trajeto da Tough Guy Race [Corrida dos durões], considerada por muitos (e auto-proclamada) a corrida mais difícil do mundo. O termômetro marcava perto de 1ºC naquela manhã de janeiro quando o canhão disparou o tiro de largada, liberando uma turba de 3,4 mil pessoas de várias idades, vindas de todos os lugares do mundo, algumas fantasiadas. Havia uma boa porcentagem de mulheres e talvez uma dezena de homens usando saias de balé. Desse total presente na largada – segundo as estatísticas apontadas pelos organizadores – pelo menos um terço não consegue terminar o percurso de cerca de 13 km.
O criador da corrida é Billy Wilson, mais conhecido como Mr. Mouse, um simpático senhor de 73 anos portador de um emblemático bigode, que andava pelo local elegantemente vestido com seu kilt, vistoriando de perto os detalhes para o início da prova.
Mr. Mouse tem experiência na organização de corridas. A Tough Guy evoluiu a partir de algumas trilhas cross-country que ele organizava e corria. Apesar de não haver registros oficiais, a maratona de inverno com obstáculos ocorre desde pelo menos 1987.
“Tentamos adicionar algo todos os anos para deixar a prova mais difícil. Às vezes fazemos alguma mudança na rota ou adicionamos novas voltas nos slaloms, alguma alteração para deixar algum obstáculo maior ou um pouco mais difícil. Qualquer coisa para ser diferente cada vez que alguém corre. Eu fiz a corrida 11 vezes no inverno e 8 vezes no verão, e foi diferente em todas elas”, diz Paul Gossy, 46, que, além de ajudar na organização, é um dos marshals que ficam espalhados pelo local auxiliando os competidores que não conseguem continuar. “Nós costumávamos ter alguns fios elétricos no Tiger, e agora adicionamos alguns no Interrogation Pit, alguns no Viagra Falls. Este ano há fios elétricos em todo lugar.”
Eu que não entendo nada de mulher acabei escrevendo o texto do dia das mulheres no Papo de Homem. Agora, eu que não entendo nada de namoro fui o responsável por escrever o texto do dia dos namorados.
Na verdade, se você é leitor velho do blog, já deve conhecer a história… Mas eu gosto de ver o feedback do pessoal que lê o PdH.
Este blog está meio carente de atualizações ultimamente, mas eu ainda estou acertando minha vida aqui… Textos novos virão. E ele não é um blog de 1,3 milhão de reais e eu não sou tão bonito quanto a Maria Bethânia, mas sou indubitalvemente mais barato e um talvez um pouco mais babaca.
De qualquer forma, se você ainda não viu meu texto publicado no Papo de Homem vai lá dar uma olhada. O pessoal tá gostando e talvez trechos dele sejam usados no próximo ENEM. Do jeito que essa prova está desmoralizada mesmo, eu não duvido.