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O primeiro estágio que eu consegui foi uma daquelas péssimas vagas do CIEE. Era uma vaga pra extrair relatórios da equipe telemarketing da Caixa Econômica Federal, no estação Brás. Lembro que fui fazer a entrevista no dia do meu aniversário de 18 anos. Me fizeram umas perguntas, me mandaram pra fazer uma provinha um tanto quanto desafiadora (sem ironias) em Excel e depois mais algumas perguntas baseadas no resultado da prova.
Logo que cheguei percebi que aquele não era emprego pra mim. Detesto bancos e aquele ambiente cinza e chato nunca me agradou (e ainda não agrada). Porém eu fui contratado após o seguinte diálogo com a entrevistadora:
– Você quer trabalhar aqui?
– Não.
– E que dia você pode começar?
Fico imaginando se não querer trabalhar no lugar era pré-requisito pra trabalhar por lá… ou se ela sequer chegou a ouvir minha resposta.
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Não fiquei nem um mês nesse estágio. Na semana que eu entrei, eles trocaram todo o time de telemarketing por conta de fim de contrato. Como é empresa do governo, eles tinham que fazer uma licitação pra definir a próxima empresa. Como são funcionários públicos, a licitação demorou mais de um mês, então eu não cheguei a trabalhar de verdade.
Logo na primeira semana comecei a fazer testes, chegando 15 minutos atrasado, e depois, saindo 10 minutos mais cedo. E fui evoluindo até chegar uma hora atrasado e sair uma hora mais cedo. Tenho a impressão que, quando eu saí de lá, ninguém realmente percebeu que eu tinha chegado a trabalhar por lá.
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Meu primeiro emprego de verdade me foi conseguido por um amigo na faculdade. Ele indicou eu e outro amigo – o Murilo – para a mesma vaga. A semana que antecedeu nossa entrevista foi composta de diversos campeonatos na faculdade: par ou ímpar, pedra papel tesoura, jogo da velha, xadrez, damas… E no final teríamos a entrevista que definiria o campeão… e que, assim como no “Passa ou Repassa”, eliminava todas as provas anteriores.
No final, acabaram criando mais uma vaga e os dois foram contratados.
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Já mandei meu curriculum com meu próprio nome errado para a empresa… E fui contratado!
Cheguei na empresa por indicação de um amigo. Mandei meu curriculum e, durante a entrevista, ao vê-lo sobre a mesa percebi que meu nome lá estava assinalado como “PaGuulo Henrique Martins”. Em um momento acabei envergonhadamente apontando o erro “Olha… desculpa… mas meu nome está errado aqui…”
Chegando em casa eu ainda fui conferir para me certificar que eu fui burro o suficiente para mandar o nome errado ou se foi algum erro no processo do recebimento à entrevista. Obviamente que eu sou um imbecil e o erro foi meu.
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Para não ficar muito cansativo vou agora ensinar a fazer um belo miojo, ferva trezentos mls de água em uma panela, quando estiver fervendo coloque o miojo, espere cozinhar por três minutos, retire o miojo do fogão, misture bem e sirva.
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Quando comecei a mandar currículos para Portugal, a primeira oferta de emprego à qual eu enviei e-mail foi com um texto explicativo que eu estava me mudando para Lisboa, passando o dia que eu estava indo, dizendo sobre meu curriculum que estava sendo enviado e falando da vaga que eu estava me candidatando.
Quinze minutos depois eu enviei um novo e-mail dizendo “Já cometi um erro. Agora sim segue o meu curriculum em anexo.”
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Em uma entrevista:
“Eu andei vendo o seu portfolio online aqui no seu site. Paulo Velho não é o seu nome de verdade, né? Daonde vem o ‘Velho’?”
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Esse é um dos motivos pelo qual o paulovelho.com não redireciona mais diretamente para este blog: preciso desassociar minha imagem de trabalhador dedicado (pfff) ao pulha que escreve estes textos.
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A terceira entrevista que fiz quando fui a Portugal foi em uma pequena empresa (cerca de 5 funcionários). Era tão pequena que eu falava direto com o dono. Eu sentia que a entrevista ia muito bem. Falei de diversos projetos que eu fiz, de minhas experiências em programação e tudo mais. Até que ele fez uma pergunta um tanto quanto inesperada:
– E Deus?
Tentei permanecer impassível diante do questionamento:
– Deus? O que tem?
– Como é Deus em sua vida?
É, ele realmente estava perguntando o que eu achei que ele estivesse perguntando. Acho que todos sabem que Portugual é um país majoritariamente católico. E quem me conhece um pouco deve saber também que eu sou ateu (e isso não costuma pegar bem).
– Por que a pergunta? – indaguei tentando não parecer rude.
Ele começou a dizer que era católico e o quanto isso ajudava ele, o quanto ter uma crença fortalece a pessoa.
– É, eu sei. Sou de uma família muito católica. – respondi esperando que fosse suficiente para contornar o assunto.
– Sim. Ele então está presente na sua vida…
– Olha.. Parafraseando José Saramago, eu procuro Deus sim.
A frase do escritor português (ateu) José Saramago diz que “todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro”.
– Mas o Deus que Saramago procurava eu também não encontrei. Mas encontrei outro Deus – Como bom português, o cara entendeu a frase e acho que entendeu também o que eu quis dizer com ela. Retribui apenas com um sorriso. Mas ele continuou – E você acredita em reencarnação?
– Eu não sei no que eu acredito – Respondi sem nem tentar esconder o quanto aquele assunto estava me incomodando. Dessa vez ele entendeu e mudou de assunto, perguntando se eu praticava algum esporte.
Não acho que qualquer que fosse minha resposta, isso teria alguma influência na minha contratação ou não. Acredito realmente que as perguntas estavam sendo feitas somente para que o meu possível futuro empregador me conhecesse. Tanto que eu acabei até sendo contratado para trabalhar nessa empresa – um ótimo lugar que me acolheu durante toda minha estadia em Lisboa.
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