Quem foi Guy Fawkes?

Texto originalmente publicado no site “Papo de Homem” em 28 de junho de 2013.
http://papodehomem.com.br/guy-fawkes-homens-que-voce-deveria-conhecer-40/

Na história criada por Alan Moore e ilustrada por David Lloyd (transformada posteriormente em um ótimo filme), o protagonista usa uma máscara baseada numa figura histórica do século XVII. Pelo contexto do enredo, a face mascarada ficou popularmente conhecida como símbolo de revolta do povo, usada para representar o levante da população perante um governo. Assim, a história de “V de Vingança” acabou endeusando a figura de Guy Fawkes. Mas antes de sair por aí com uma máscara de uma personalidade histórica, seria melhor conhecer a história desse terrorista católico extremista, que, se não tivesse falhado com seu plano, teria destruído em 1605 não só o parlamento inglês, mas tudo ao redor num raio de até 490 metros.

Retrato de Guy Fawkes
Retrato de Guy Fawkes

Guy Fawkes nasceu em 1570, em York. Seu pai morreu quando ele tinha apenas oito anos. Anos depois, sua mãe casou-se de novo com um católico fervoroso, que não aceitava a religião anglicana na Inglaterra. Por influência do padrasto, Fawkes converteu-se ao catolicismo e deixou a Inglaterra para lutar pela Espanha Católica durante a Guerra dos oitenta anos, nos países baixos. Nesse período de guerra, sob o nome de Guido Fawkes, se tornou especialista em explosivos. Ainda nessa época, participou de uma tentativa frustrada de restaurar o catolicismo no Reino Unido. Foi quando conheceu Thomas Wintour, um dos personagens que também participaria da chamada “Conspiração da Pólvora”.

Na pior em Londres

Era uma quinta-feira, dia 20 de outubro de 2011. Por volta das 20:30, sentei-me num dos bancos do aeroporto de Heathrow, e comecei a chorar. Eu nunca choro. Nem assistindo a The Green Mile, nem Titanic nem em qualquer filme romântico meloso em que o cachorro morre no final. Só me lembro de ter derramado lágrimas em Forrest Gump e Toy Story 3, e esse fato talvez ilustre melhor a terrível e desesperadora situação que eu me encontrava naquela noite.

Carregava comigo, além da roupa do corpo, uma mochila com duas bermudas, uma dezena de camisas e cuecas, uma camisa social, duas camisas de manga comprida e uma blusa velha. Devido a uma seqüência peculiar de eventos, minha mala que continha todas as roupas de frio, blusas, cachecóis e meias de lã – que seriam suficientes para suportar o gélido vindouro inverno europeu – estava em Paris, inacessível para mim pelos próximos dois meses ainda.

Naquele momento, Londres ainda era uma completa desconhecida; uma incógnita tentadora. E lá estava eu: sem emprego, sem dinheiro, sem roupas apropriadas para o clima, sem casa, sem amigos – exceto por dois (na época) conhecidos que viriam a salvar minha vida algumas vezes depois – e sem ter aonde dormir aquela noite.

Londres: o lugar mais legal do mundo
Londres: o lugar mais legal do mundo

Pedro

Eu ainda estava sentado ali, perdido, sem saber o que fazer, quando Pedro me ligou. Conheci Pedro oito meses antes, na parte marroquina do deserto do Sahara. Paulista, são-paulino, passou um tempo estudando em Madrid e já estava há algum tempo morando, trabalhando e estudando em Londres. Já tinha sido garçom de uma churrascaria típica brasileira e barman de um pub. Naquela mesma quinta-feira ele estava sendo despejado do quarto onde morava e também não tinha aonde dormir aquela noite. Ele providenciou, então, duas reservas de última hora em um hostel relativamente barato (pelos padrões de Londres) e relativamente mequetrefe (pelos padrões de hostel); perto de Russel Square. Pelo menos por aquela noite, era lá que eu ia ficar.

Algumas horas depois, na sala de convivência do hostel, enquanto tomávamos uma New Castle, Pedro me passava todos os contatos que ele tinha com landlords (o equivalente inglês ao proprietário do imóvel) e empresas que providenciam quartos para estudantes e estrangeiros. Há até grupos especializados em residências para brasileiros. No dia seguinte, de manhã, telefonei para quantos consegui, mas o período era de baixa oferta. Muitas pessoas chegam e saem no início e final de anos letivos e, por ser meio de semestre, era difícil achar algum lugar que fosse acessível e imediato.

Na sexta-feira mesmo fui fazer a primeira visita a um quarto que estava disponível na região de Hackney, a nordeste de Londres. Seria aquele quarto que eu adotaria como lar pelo próximo ano e já naquela noite dormiria por lá pela primeira vez.

Goodbye, London! Cheers!

O sol brilhava no sábado, 22 de setembro quando eu cheguei na King’s Cross Station, com uma mala de 30kg, um mochilão de viagem e uma outra bolsa onde carregava o notebook. Uma brisa fria soprava, já anunciando o fim do verão. Pelo menos não chovia, o que, aliado com a visão do Sol, é o melhor clima que Londres podia me ofercer como despedida, depois de quase um ano morando na cidade. Não precisava, Londres… O prazer foi meu. Parti de Londres de trem, da mesma estação que havia chegado 350 dias antes. A impressão ainda é de que eu não conheço a cidade o suficiente… Há tanto pra ver que eu não vi, tanto pra ir que eu não fui e tanto a aprender que eu deixei passar. Um ano é pouco para conhecer Londres. Talvez uma vida ainda não seja o suficiente.

So long and thanks for all the fish (and chips)

Paraolimpíadas

Um pouco mais renegada do que sua irmã com todos os braços, as Para-Olimpíadas ocorrem desde 1960. No mesmo país sede e depois das Olimpíadas, o evento é uma amostra de superação humana, com competições envolvendos atletas deficientes, sem braços, pernas, cegos, anões, com problemas mentais e fãs de Crepúsculo.

É inspirador e interessantíssimo assistir essas pessoas fazendo coisas que eu não conseguiria fazer nem se tivesse o dobro de braços que tenho. Nadadores e corredores sem pernas ou atiradores de flecha sem braços. Faltou as competições de tiro ao alvo para portadores de Mal de Parkison, mas isso deve ser incluído nas paraolimpíadas futuras.

Fui então no ExCel Arena em Londres para poder acompanhar as provas, em um dia de competição. Comprei um “day pass” que me dava direito a acompanhar todas as modalidades que estivessem em curso na arena no dia. Comecei então pelo tênis de mesa, simplesmente porque era mais perto da entrada.

Para-Ping-Pong

Oito mesas de ping-pong estavam dispostas no estádio, com partidas ocorrendo simultaneamente. Dividido por categorias, algumas mesas com menos espaço livre eram dedicadas aos competidores em cadeiras de rodas. Quando entrei, um anão coreano disputava contra um holandês que parecia ser albino. Alguns jogos começaram pouco depois, incluindo um jogo muito dinâmico entre um atleta da Suécia e um da Áustria – ambos sem uma das mãos. Perto deles, um chinês com dificuldades de locomação jogava contra um espanhol sem qualquer deficiência aparente – devia estar lá por ser judeu ou algo do tipo.

O legado Olímpico

No longínquo ano de 2005, concorriam com Londres o direito de sediar as Olimpíadas de 2012 Paris, New York, Moscou e Madrid.

Paris 2012
Paris 2012… perdeu, Monsieur

Não consigo imaginar quão terrível estaria a economia espanhola agora se, além de todos os problemas enfrentando a atual crise, eles ainda tivessem que se preparar para uma Olimpíada. A França, também tentando fugir de uma crise, está em um atual processo de reformulação política e é certamente melhor que politicagem e clima olímpico não se misturem. Os russos provavelmente gastaram todo o dinheiro do orçamento em vodka.

New York é um exemplo à parte. Ao perder o direito de sediar as Olimpíadas, a cidade pôde investir o dinheiro que seria gasto em estrutura de estádio e vila olímpica em coisas mais úteis e que os nova-iorquinos estavam realmente precisando, além de ter realmente cumprido boa parte da revitalização planejada se tivesse sido eleita. E, além de tudo, pôde fazer tudo com calma, tendo projetos de expansão do transporte público em andamento até 2014. Os ganhos para a cidade foram maiores do que se ela tivesse realmente sido escolhida para sediar os jogos – e é nisso que é baseado o título do artigo “How New York City won the Olympics”, de Mitchel Moss (novembro/2011) [link – pdf].

NYC – 2012

Mas Londres deu ao mundo uma olimpíada primorosa. A toda hora parecia que alguma coisa ia dar errado – e tudo beirou a perfeição. A rede de transportes foi impecável, a segurança foi constante e até o clima ajudou. O planejamento foi tão minucioso que deixa uma cidade sem elefantes brancos – grandes áreas foram revitalizadas e a Vila Olímpica foi propositalmente construída numa das regiões outrora mais pobres de Londres, Stratford (a meros quatro quilômetros aqui de casa); primeiro erro brasileiro, que está construindo sua Vila Olímpica na abastada região da Barra da Tijuca. O legado sustentável que as Olimpíadas deixam a Londres é inegável.

Ninguém no centro…

Londres se preparou tanto para uma multidão de pessoas invadirem suas pobres ruas de trânsito inglês que um efeito colateral inesperado está presente na cidade.

Por meses antes do início das Olimpíadas, cartazes e anúncios publicitários invadiram a cidade e todas suas estações de metrô alertando ao povo sobre todas as dificuldades que seriam previstas na época olímpica. Recomendaram a quem podia que trabalhassem de casa, evitassem o centro, usassem rotas alternativas de transporte e até – se possível, não era nem pra sair da cama, porque a cidade estaria caótica… A debandada de moradores ingleses era tanta que uma companhia aérea até veiculou um anúncio recomendando que os londrinos não viajassem… Tudo parte do típico catastrofismo britânico.

O povo inglês se mostrou irritantemente obediente e livrou Londres de seu esperado colapso do transporte público: nem a Central Line, linha de underground que liga a Vila Olímpica em Stratford ao centro da cidade está tão congestionada quanto todo mundo previa. E o centro da cidade está surpreendentemente vazio.

Centro de Londres durante as Olimpíadas

Isso gerou um novo problema: os comerciantes do centro estão reclamando da falta de turistas. Um restaurante de Convent Garden chegou a dar uma declaração dizendo que tiveram o final de semana mais vazio de todos os tempos. (link: http://www.standard.co.uk/news/london/westfields-games-boom-brings-west-end-gloom-7994110.html?origin=internalSearch)

Atualmente, os avisos sonoros no metrô de Londres que antes alardeavam ao povo sobre o caos que seria encontrado nesta época foram substituídos por um aviso para que as pessoas evitem a área de Stratford e voltem a freqüentar o centro da cidade. Obediente que são, provavelmente os ingleses vão obedecer. Eu prevejo caos para esta semana. Acho que o justo seria o sistema de som pedir aos habitantes da cidade sentados do lado direito do trem que fiquem em casa e os sentados do lado esquerdo que fossem ao centro. Seria o equilíbrio perfeito.

Vendo esse comportamento britânico, fico imaginando se fosse no Brasil. Se alguém pedisse para evitar o centro da cidade por estar muito cheio, provavelmente o oposto seria feito pelo povo, que iria pra lá só pra ver que muvuca é essa que está acontecendo…

Ninguém entra, ninguém sai