Roteiro da baixa gastronomia – edição África

Um guia com os piores lugares para se comer mal sem gastar muito pelo mundo

Kigali – Ruanda
Refeição para dois
Custo total: 5600 Francos ruandeses (cerca de R$20)

Em algum lugar na Old City de Kigali, próximo à KN144 Street, aonde homens saem com seus cabritos para passear e mulheres carregam com destreza toneladas em suas cabeças, fica este pequeno restaurante caseiro completamente não-turístico e tipicamente africano. O lugar é uma casa miserável, com mesas de madeira e cadeiras de plástico. O forro do teto apresentava diversas infiltrações visíveis e um buraco permitia ver o telhado, com um raio de luz do sol penetrando o ambiente.

Na entrada, numa tentativa de combater a cólera, um barril azul com uma torneirinha está disponível para os clientes lavarem as mãos, despejando a água em um balde – que provavelmente volta ao barril depois.

kigali
Restaurante sem nome de Kigali

Cheguei ao lugar com meu guia e host, Patrick. O menu é inexistente e o prato é aquele que tem no dia e você já deveria se dar por satisfeito por estar comendo. E comendo bem: Eram quatro ou cinco pratos, um com arroz, um com batatas, um com meia costela e pata de frango e outro com outra costela e a asa da ave. Nada de carne de peito para nós. Folhas de cassava completavam a refeição. Para conseguirmos separar a comida em pratos individuais, tivemos que trabalhar numa readequação dos alimentos, jogando as fritas em cima do arroz, espalhando as batatas pelos outros pratos e misturando tudo de forma irremediável.

Ditadores Africanos

Na escala da insanidade, há uma série de categorização de malucos que podemos ordenar:

  • O normal
  • O levemente insano
  • O pessoal que coloca o arroz por cima do feijão nos self-services
  • O maluco de pedra
  • Eu
  • Eleitores partidários
  • Salvador Dalí
  • Ditadores africanos

Estudando a história da África, é fácil ficar abismado com o nível de insanidade desses ditadores e chefes que comandaram o continente. São personagens tão únicos que é de se duvidar que realmente existiram, mais parecendo terem sido tirados de alguma obra de ficção cômica, de algum autor sarcástico, como Douglas Adams ou Terry Pratchett. Entre esses ditadores, destacam-se:

Mobutu Sese Seko

mobutu

O rapaz na foto, usando um belo chapéu de pele de onça (que, em combinação com os óculos de aro grosso, acabou virando sua marca) e uma roupa colorida é Mobutu Sese Seko, antigo ditador do Zaire. Depois de uma série de golpes de estado, assumiu o poder do Congo em 1965, colocando em exílio o presidente que ele mesmo tinha ajudado a eleger.

Vida de caroneiro – Parte 2

Leia a primeira parte aqui!

A minha primeira experiência tentando pegar uma carona se deu em Portugal, em 2011. Com a idéia de visitar a cidade de Fátima, fiz o que qualquer turista desavisado faria em meu lugar: peguei um trem até Fátima. O problema é que a estação de trem fica a aproximadamente 20km da dita cidade e perdida no meio do nada (antes de chacotear os lusitanos, lembre-mo-nos que a estação Consolação fica na Paulista e a estação Paulista fica na Consolação).

Fátima. Tá vendo?
Fátima. Tá vendo como é no meio do nada?

Sem dinheiro e sem ânimo, permaneci com meu dedão esticado sob um sol relativamente abusivo na beira da estrada deserta que levava até a estação. Felizmente, não fiquei lá por muito tempo e fui logo levado por um português camarada a Ourém, que não era o destino final, mas ao menos tinham ônibus para completar o trajeto desejado.

A minha maior e melhor experiência de caronas, entretanto, foi (quase) completamente planejada.

Na época que eu morava em Paris, tive a idéia de visitar uma grande amiga em Rennes, a aproximadamente 340km de distância. Dinheiro, como sempre, era um grande problema e, tendo voltado de uma viagem pelo leste europeu aonde conheci uma garota que estava viajando de carona desde a Ucrânia, simplesmente pensei que, se uma alemãzinha adorável consegue viajar de carona na Romênia, eu também devo conseguir na França.

Vida de caroneiro – Parte 1

Na beira da estrada, com uma mochila nas costas, uma placa na mão e um dedão levantado. Paciência, sorte e um pouco de coragem. A carona é uma arte menosprezada por aqui, mas é reconhecidamente um dos meios mais baratos (e demorados) de se viajar em lugares como Europa, Estados Unidos ou Austrália.

Em países como a Alemanha, ela é tão organizada que existem até serviços que ajudam caroneiros a se encontrar com motoristas (como o Mitfahrgelegenheit – http://www.mitfahrgelegenheit.de/). Em muitos países, porém, a carona é ilegal, o que não quer dizer que ela não exista – aonde há um mochileiro tentando viajar, há um dedo em riste na beira da estrada.

Uma placa na mão, um dedo levantado e paciência...
Uma placa na mão, um dedo levantado e paciência…

Minha primeira experiência com caronas foi inusitadamente do lado do motorista (mas do lado inglês, diga-se de passagem). Durante uma viagem à Nova Zelândia, com minha prima, alugamos um carro e saímos de Christchurch em direção ao belíssimo Lake Tekapo. Logo na saída da cidade, assim que pegamos a estrada, vimos no acostamento dois jovens estilo hippie, cabelos dignamente despenteados, roupas largas e chinelos. Tocavam violão e mantinham a seus pés uma placa indicando o destino: uma cidadezinha que, pelo que podíamos ver no mapa, ficava na região de Ashburton, meio do caminho para nós.

A Convenção de Kitzbühel

Era uma quarta-feira, 05 de julho, quando meu avião vindo de Estocolmo pousou em Munich.

Ridiculamente linda cidade.
Kitzbühel: ridiculamente linda cidade.

Viajava a trabalho, vindo de um projeto na Suécia para uma convenção na pequena cidade de Kitzbühel, na Áustria. A empresa que me empregava em Londres havia comprado uma outra pequena companhia alemã de envio de e-mails, e essa convenção foi organizada de forma que ambas se conhecessem. O encontro envolvia praticamente toda a equipe da empresa comprada e uma pequena parcela da alta cúpula da multinacional aonde eu trabalhava, incluindo todos os meus superiores europeus – por algum motivo obscuro, eu também estava nessa seleta lista de importantes empresários.

Assim, no aeroporto de Munich, um ônibus fretado esperava funcionários vindos de várias partes da Europa, para partir estrada afora rumo à Áustria, aonde um hedonista hotel cinco estrelas (ou algo próximo disso) estaria nos aguardando para que aproveitássemos de suas confortáveis almofadas e jardins com vista para os Alpes sob o pretexto de estarmos trabalhando. Essa é a vida da alta cúpula empresarial européia (que, por sinal, eu abandonei para vender cerveja na Lapa).

Alguns pequenos atrasos nas chegadas fizeram o ônibus atrasar um pouco sua partida. Um inconveniente trânsito na E45 e uma conveniente parada em um posto de gasolina para comprarmos cerveja causaram um atraso ainda maior e fizeram com que chegássemos no hotel aproximadamente duas horas depois do previsto.

“Como estamos bem atrasados, vocês somente deixem suas malas nos quartos e já desçam até o restaurante para o jantar, antes que ele feche.”, disse meu chefe enquanto todos fazíamos o check-in. Eu, porém, tinha algum e-mail importante e fútil para responder (eu sei que era importante porque eu posterguei um jantar gratuito para respondê-lo e eu sei que era fútil porque eu não me lembro o que era), e fui praticamente o último funcionário a chegar no restaurante. Naquela altura, todas as mesas já estavam praticamente ocupadas e o único lugar vago era na mesa dos chefes.

Como sempre fui integrante assíduo da baixa classe de proletariado e como provavelmente eles estariam falando de trabalho, me incomodou um pouco aquele assento. Três níveis hierárquicos acima de mim dividiam a mesa e, por mais que eu insista que não me importo com autoridades, tentei manter uma pose e comportamento respeitáveis. Em vão, obviamente.

Agrega valor
Agrega valor

Fui até o buffet self-service, aonde travessas ainda alinhavam-se convidativamente. Peguei um dos pratos de uma pilha disponível na mesa de saladas e mesmo ele parecendo muito pequeno, era o único que eu tinha em vista naquele momento. Me servi de alfaces, tomates e passei para a bancada com os pratos quentes. O problema é que os nomes de todas as comidas estavam em alemão e, apesar de saber o que é bier, chucruts e wurst, a variedade oferecida iria desafiar muito mais a minha habilidade de ler amontoados de consoantes aparentemente sem sentido. Fui me servindo, então, de forma aleatória. Peguei um salsichão branco (alguma-coisa-wurst) e um punhado de alguma carne. Me servi também de uma colherada de um macarrão-parafuso que me apeteceu e, na falta de tempero, joguei por cima o molho vermelho ali do lado da travessa, que, obviamente, só podia ser molho de tomate.

Chegando no final da bancada, antes de voltar, uma surpresa. Do outro lado, tendo passado desapercebido por mim, estava o começo do buffet. Na afobação de ir buscar comida antes que o restaurante fechasse, eu não tinha visto aquela seção. Nela, haviam as entradas, pães, uma variedade ofensiva de queijos e, obviamente uma pilha de pratos adequados. Se eu tinha achado meu prato pequeno, era porque aquele era o prato para saladas – que, num lugar tão garboso, evidentemente não devia ser colocada no mesmo receptáculo que a comida quente. O que fazer numa situação dessas? O espírito pedreiro recomendava simplesmente virar o conteúdo daquele prato minúsculo em um prato decente e esconder meu prato de saladas usado debaixo da toalha. O requinte me impediu de fazer maiores estultices em um lugar tão fino, então mandei às favas os pratos maiores, adicionei ainda algum queijo mal-cheiroso no topo de minha montanha de comida alemã e voltei à mesa da chefia, imaginando que meu minúsculo prato amontoado de todos os estilos gastronômicos misturados iria me colocar em meu devido lugar, uma camada abaixo de meus chefes elitistas com sua autoridade demonstrada pela linha de porcelanas adeqüadamente maior.

Ainda me levantei uma vez mais para pegar um copo e aproveitar-me da jarra de suco de laranja que estava em nossa mesa. Peguei então uma taça que estava em meio a outras em uma mesa próxima. E, já que estava com o prato errado, para combinar, quando retornei percebi que estava com o copo errado também, e, enquanto todos tomavam suco em copos baixos e retos, eu me servia no que agora eu via que era uma taça de vinho, numa combinação um tanto quanto pitoresca com meu prato minúsculo.

Como se isso não bastasse, minha refeição pareceu ainda mais ridícula quando eu percebi que o suposto molho de tomate que coloquei em cima do macarrão e da salsicha era, na verdade, geléia de framboesa. Por sorte, meus chefes europeus deviam estar acostumados a culturas ridículas e não teceram comentários sobre minha peculiar combinação de sabores e porcelanato, demonstrando assim uma elegância coerente ao cargo que ocupavam. Eu, porém, me sentia num episódio de Mr. Bean, onde qualquer comentário ou ação que eu tomasse só aumentaria a vergonha alheia de minha situação.

Pelo menos, os outros dois dias a trabalho na Áustria se mostraram divertidos e produtivos, numa excelente combinação de tardes de palestras e reuniões com noites de baladas fechadas e jantares suntuosos. Após esse primeiro jantar, tentei manter novamente uma certa distância da alta hierarquia da empresa e, o máximo de babaquice que eu conseguir fazer durante o resto de nossa estadia foi derramar vinho tinto na camisa do gerente europeu.

A essa altura, eles já deviam saber que é prudente tomar uma certa distância de mim.

Até os manequins austríacos parecem contrariados com minha presença.
Até os manequins austríacos parecem contrariados com minha presença.

 

Na pior em Londres

Era uma quinta-feira, dia 20 de outubro de 2011. Por volta das 20:30, sentei-me num dos bancos do aeroporto de Heathrow, e comecei a chorar. Eu nunca choro. Nem assistindo a The Green Mile, nem Titanic nem em qualquer filme romântico meloso em que o cachorro morre no final. Só me lembro de ter derramado lágrimas em Forrest Gump e Toy Story 3, e esse fato talvez ilustre melhor a terrível e desesperadora situação que eu me encontrava naquela noite.

Carregava comigo, além da roupa do corpo, uma mochila com duas bermudas, uma dezena de camisas e cuecas, uma camisa social, duas camisas de manga comprida e uma blusa velha. Devido a uma seqüência peculiar de eventos, minha mala que continha todas as roupas de frio, blusas, cachecóis e meias de lã – que seriam suficientes para suportar o gélido vindouro inverno europeu – estava em Paris, inacessível para mim pelos próximos dois meses ainda.

Naquele momento, Londres ainda era uma completa desconhecida; uma incógnita tentadora. E lá estava eu: sem emprego, sem dinheiro, sem roupas apropriadas para o clima, sem casa, sem amigos – exceto por dois (na época) conhecidos que viriam a salvar minha vida algumas vezes depois – e sem ter aonde dormir aquela noite.

Londres: o lugar mais legal do mundo
Londres: o lugar mais legal do mundo

Pedro

Eu ainda estava sentado ali, perdido, sem saber o que fazer, quando Pedro me ligou. Conheci Pedro oito meses antes, na parte marroquina do deserto do Sahara. Paulista, são-paulino, passou um tempo estudando em Madrid e já estava há algum tempo morando, trabalhando e estudando em Londres. Já tinha sido garçom de uma churrascaria típica brasileira e barman de um pub. Naquela mesma quinta-feira ele estava sendo despejado do quarto onde morava e também não tinha aonde dormir aquela noite. Ele providenciou, então, duas reservas de última hora em um hostel relativamente barato (pelos padrões de Londres) e relativamente mequetrefe (pelos padrões de hostel); perto de Russel Square. Pelo menos por aquela noite, era lá que eu ia ficar.

Algumas horas depois, na sala de convivência do hostel, enquanto tomávamos uma New Castle, Pedro me passava todos os contatos que ele tinha com landlords (o equivalente inglês ao proprietário do imóvel) e empresas que providenciam quartos para estudantes e estrangeiros. Há até grupos especializados em residências para brasileiros. No dia seguinte, de manhã, telefonei para quantos consegui, mas o período era de baixa oferta. Muitas pessoas chegam e saem no início e final de anos letivos e, por ser meio de semestre, era difícil achar algum lugar que fosse acessível e imediato.

Na sexta-feira mesmo fui fazer a primeira visita a um quarto que estava disponível na região de Hackney, a nordeste de Londres. Seria aquele quarto que eu adotaria como lar pelo próximo ano e já naquela noite dormiria por lá pela primeira vez.

A grande revolta da cerveja

É engraçado como cada país da Europa têm os seus hábitos etílicos bem definidos: a Escócia tem sua paixão por uísque, a Bélgica tem suas cervejas trapistas, a França e seus vinhos, a Alemanha e suas weiβbier, a Inglaterra e suas “real ales” a Rússia e a Polônia com suas vodkas e a Irlanda consumindo em excesso qualquer coisa que contenha alcóol, deixando irlandeses bêbados buscando brigas em bares.

A cerveja é uma parte importantíssima da vida cotidiana alemã. Hitler instituiu as reuniões do partido nazista em uma cervejaria. Ele mesmo não bebia, mas sabia que se quisesse captar a atenção do povo, o lugar que ele teria que ir eram os bares. Em Munich, todo trabalhador tem o direito de beber até 500ml da bebida em horário de trabalho. Um dos mais antigos decretos alimentares do mundo é a Reinheitsgebot, a lei da pureza da cerveja alemã, promulgada em 1516 e válida até hoje.

De todas as cidades alemãs, Munich é certamente a minha favorita. Sou fã das tradições bavárias, da arquitetura antiga e reconstruída da cidade, das biergartens, da Oktoberfest, das “alemãzinhas de olhos lindos, meu amor!” e das histórias e lendas em torno da cerveja. Uma de minhas histórias preferidas remete ao ano de 1823, durante o reinado do meu rei alemão favorito: Ludwig I.

Ludwig I
Ludwig I, pelo que parece, muito antes da invenção do pente.

A cabeçada

Em frente ao Centro Pompidou, em Paris, reside a nova obra do escultor francês Adel Abdessemed. O prédio do museu já tem uma estrutura peculiar, com canos e tubulações expostas. O interior contém obras de grandes artistas do último século, de Picasso a Dali, passando por Matisse e pelas obras provavelmente feitas por crianças cegas paraplégicas de cinco anos e assinadas pelo Miró.

Do lado da fora, agora reside uma estátua de bronze de quase cinco metros de altura que retrata o exato momento em que o ídolo francês Zinedine Zidane cabeceou o italiano Marco Materazzi, no final da Copa do Mundo de 2006.

Mais do que uma obra de arte. A estátua é uma grande homenagem ao futebol. Um retrato eterno do maior momento de um jogador e, mais do que isso, do maior momento de um homem. É um grito de uma geração. É um ode a tudo que há de bom no esporte. É um aviso aos italianos. É uma reavivação da lembrança de cada homem. Onde você estava quando o Senna morreu? E quando o Zidane cabeceou o Materazzi? Era uma época mais inocente, onde gifs animados surpreendentemente bem feitos faziam as vezes de memes da época e não eram desleixadamente compartilhados pelas nossas tias.

Zidane Gif

E a Torre Eiffel deixará de ser o monumento mais belo e popular de Paris.

Alex Silva: A imagem do Brasil

Deixa eu compartilhar uma basófia que se sucedeu há um tempo atrás.

ahn?

Eu estive em Estocolmo a trabalho. A viagem era custeada pela empresa, incluindo a alimentação, então nessas ocasiões eu procuro me alimentar de coisas que eu geralmente não como, por exemplo: comida de verdade.

Na noite de uma agradável terça-feira, fui a um restaurante. Eram cerca de 20h e o sol ainda brilhava feliz da vida no céu sueco. Escolhi um lugar não muito hedonista, apenas tinha algumas coisas que eu não estou acostumado a ter nos lugares em que eu geralmente me alimento, como talheres limpos. Fui atendido por um garçom de aparência ligeiramente árabe-européia, provavelmente oriundo de um país mais peculiar, como Bulgária ou Sérvia. Comi um belo bife e, na hora de pagar a conta, como ele viu que eu só falava inglês (com um sotaque ligeiramente turístico), decidiu que seria maravilhoso conversar comigo.

Acompanhem a versão traduzida do diálogo:

– Vocé é daonde?
– Brasil
– Oh! Brasil… Alex Silva! Conhece ele?
– O jogador?
– É.
– Conheço…
– É… Grande jogador… Tem também o Roberto Carlos!
– Roberto Carlos? Mas já é velho.. hoje em dia tem o Neymar – (não que eu goste realmente do Neymar, mas eu não estava gostando do rumo futebolístico da conversa)
– Sim… Você gosta do Neymar?
– Olha… eu prefiro o Kaká – (porque eu disse isso?)
– Tem também o Rincón.
– Rincón? – aí ele pegou pesado… eu ergui uma sombrancelha (ou as duas, não sei, eu não estava me vendo) – O Rincón é boliviano! – (eu sei que ele é colombiano, mas no susto da situação eu tenho quase certeza que alterei a nacionalidade do negão. Eu precisava tirar ele do Brasil!)
– É.. é… É de uma cidade muito pequena. – disse ele fazendo um sinal de pequeno com as mãos.

Eu desisti da conversa aí. Saí meio confuso do restaurante e depois de algumas esquinas me distrai com uma coletânea de loiras de olhos azuis que passavam de shortinhos.

Abraços ao Rincón, que patrocinou a portuguesa com o seu café.

Lembrando que o Rincón, depois de se aposentar do futebol, associou seu nome a uma marca de café. É uma tentativa comum entre os colombianos a de ganhar dinheiro com pó.

Porque não é considerado racista dar um nome de um negro a um café, mas seria se a gente desse um apelido de café a um negro?

Goodbye, London! Cheers!

O sol brilhava no sábado, 22 de setembro quando eu cheguei na King’s Cross Station, com uma mala de 30kg, um mochilão de viagem e uma outra bolsa onde carregava o notebook. Uma brisa fria soprava, já anunciando o fim do verão. Pelo menos não chovia, o que, aliado com a visão do Sol, é o melhor clima que Londres podia me ofercer como despedida, depois de quase um ano morando na cidade. Não precisava, Londres… O prazer foi meu. Parti de Londres de trem, da mesma estação que havia chegado 350 dias antes. A impressão ainda é de que eu não conheço a cidade o suficiente… Há tanto pra ver que eu não vi, tanto pra ir que eu não fui e tanto a aprender que eu deixei passar. Um ano é pouco para conhecer Londres. Talvez uma vida ainda não seja o suficiente.

So long and thanks for all the fish (and chips)