Ditadores Africanos

Na escala da insanidade, há uma série de categorização de malucos que podemos ordenar:

  • O normal
  • O levemente insano
  • O pessoal que coloca o arroz por cima do feijão nos self-services
  • O maluco de pedra
  • Eu
  • Eleitores partidários
  • Salvador Dalí
  • Ditadores africanos

Estudando a história da África, é fácil ficar abismado com o nível de insanidade desses ditadores e chefes que comandaram o continente. São personagens tão únicos que é de se duvidar que realmente existiram, mais parecendo terem sido tirados de alguma obra de ficção cômica, de algum autor sarcástico, como Douglas Adams ou Terry Pratchett. Entre esses ditadores, destacam-se:

Mobutu Sese Seko

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O rapaz na foto, usando um belo chapéu de pele de onça (que, em combinação com os óculos de aro grosso, acabou virando sua marca) e uma roupa colorida é Mobutu Sese Seko, antigo ditador do Zaire. Depois de uma série de golpes de estado, assumiu o poder do Congo em 1965, colocando em exílio o presidente que ele mesmo tinha ajudado a eleger.

Seu nome de batismo é Joseph-Desiré Mobutu. Em 1971, trocou o nome do país para Zaire e forçou todos os cidadãos a adotarem nomes africanos. Nomeou a si mesmo Mobutu Sese Seko Nkuku Ngbendu wa Za Bang, que significa O Todo Poderoso Guerreiro que, Por Sua Força e Inabalável Vontade de Vencer, Vai de Conquista em Conquista, Deixando Fogo em Seu Rastro.

A estimativa conservadora é que Mobutu tenha roubado em esquemas de corrupção mais de 5 bilhões de dólares do Zaire, sendo o líder mais corrupto da África e um dos mais corruptos da história da humanidade. Sob seu governo, o Zaire se tornou um dos países mais ricos do continente, através de atividades como extração de metais e pedras preciosas. Apesar disso, o povo ia afundando cada vez mais na miséria e a dívida externa alcançava os 12 bilhões de dólares. Quando morreu, sua fortuna era estimada em 7 bilhões de dólares, sendo ele mesmo o responsável por boa parte do PIB do próprio país.

Entre outras extravagâncias, o casamento da filha de Mobutu incluiu a contratação de três orquestras, um bolo importado de Paris que custou mas de 65 mil dólares (o que faz os doces da Sodiê não parecerem tão caros assim), um vestido de noiva de 70 mil dólares e mais de 3 milhões de dólares em jóias.

Mobutu morreu em 1997, de causas naturais. O Zaire voltou ao nome antigo: “República Democrática do Congo”.

Idi Amin

idiAmin_1614124cDizer que era presidente ou ditador de Uganda é pouco. Seu título oficial era:

Sua Excelência, presidente vitalício, marechal de campo, doutor Idi Amin Dada, Senhor de todas as feras da Terra e peixes dos mares e conquistador do Império Britânico na África em Geral e Uganda em particular

Sim, era esse seu título oficial.

Gostava de nadar com elefantes e proclamava-se descendente dos escoceses. Expulsou os imigrantes indianos (arruinando a economia) e ofereceu abrigo a terroristas palestinos que sequestraram um avião cheio de israelenses. Com trocas repentinas de humor, era amável e carismático em um momento e bravo e violento logo depois. Também acreditava-se que era um canibal.

De tão caricato, gerou um filme Hollywoodiano: O Último Rei da Escócia, que rendeu o Oscar de melhor ator a Forest Whitaker

Jean Bedel Bokassa

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Mais um doido de pedra.

Órfão, entrou logo cedo no exército da República Centro-Africana, aonde atuava junto das tropas colonizadoras francesas. Quando seu país conseguiu a independência, em 1960, Bokassa já era capitão. Seu primo, David Dacko, elegeu-se presidente e Bokassa foi promovido a general. Em 1966, depôs o próprio primo e tomou o poder.

Em 1977, cansou de ser presidente e declarou-se imperador. Aficcionado por Napoleão Bonaparte, organizou uma cerimônia para sua auto-coroação que custou cerca de 20 milhões de dólares. Bokassa chegou numa carruagem de 8 toneladas, toda enfeitada a ouro, usando um manto de nove metros de veludo púrpuro que pesava cerca de trinta quilos e sapatos de pérola. Seu trono tinha a forma de uma águia com três metros de altura e quatro de largura. Convidou e pagou as despesas de viagem de três mil autoridades de outros países e mandou construir modernas casas pré-fabricadas só para alojá-los. Mudou o nome do país para Império Centro-Africano.

Foi deposto pelas tropas francesas em 1979, após a ordem para metralhar cerca de 100 alunos do ensino fundamental, que faziam um protesto contra o governo. Seu palácio possuía um zoológico particular com crocodilos que eram alimentados com os corpos de seus inimigos. Os freezers do palácio também continham carne humana – acredita-se que Bokassa era canibal e se alimentava de seus desafetos.

Em 1986, retornou de seu exílio na França e foi imediatamente detido, acusado de 14 acusações diferentes, incluindo traição, assassinato e canibalismo. Foi condenado à morte, mas teve a pena anulada e comutada à prisão perpétua. Porém, em 1993, foi anistiado, libertado e, sabe-se lá porquê, recebido como herói pela população. Cansado de ter sido imperador, dessa vez disse que era o 13º apóstolo e que tinha encontros secretos com o papa.

Bokassa morreu em 1996, aos 75 anos, deixando 17 esposas e 50 filhos.

Robert Mugabe

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Este é atual: Robert Mugabe é há 26 anos presidente do Zimbábue. De herói, sendo comparado a Nelson Mandela na luta contra a opressão branca, a vilão, sugerindo que a população branca do país voltasse para a Inglaterra e declarando ser o homem que impõem medo em Barack Obama.

Mugabe foi reeleito ditador presidente do Zimbabwe em 2013, com 61% dos votos, numa eleição contestável – recebendo votos de mais de 100 mil eleitores cadastrados com mais de 100 anos, algo estranho para um país cuja expectativa de vida é de 53 anos.

Antes disso, havia sido reeleito em 2008, de forma mais contestável ainda. As eleições daquele ano eram as primeiras da nova constituição zimbabueana e Morgan Tsvangirai, candidato da oposição, venceu, o que finalmente tiraria Mugabe do poder. Mas um bom ditador não aceita a derrota facilmente. Foi ordenada a recontagem dos votos, com uma alegação de suspeita de fraude. Enquanto o embate se dava de forma supostamente democráticas, membros do partido de Mugabe – O ZANU-PF cuidavam da reeducação da população, através de violência, torturas e violações.

A situação ficou tão fora de controle que Tsvangirai decidiu, pelo bem da população, desistir de sua candidatura no momento que os partidários de Mugabe conseguiram a imposição de um segundo turno e uma segunda votação. Sem outro candidato, Mugabe foi obviamente reeleito.

Sarcástico, ele convidou Tsvangirai a assinar um acordo de divisão de poder.

O ZANU-PF têm invadido casas e recolhido os rádios que instituições internacionais distribuíram à população para conhecimento do que tem acontecido no país. Em 2009, o Zimbábue adotou o dólar americano como moeda, após uma hiper-inflação de 9000%.

Haile Selassie

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Herdeiro de uma dinastia cujos antepassados remontam ao Rei Salomão, foi presidente imperador da Etiópia por quatro décadas. Um orador talentoso, suas visões internacionalistas levaram a Etiópia a se tornar membro das Nações Unidas. É considerado um dos maiores líderes mundiais dos anos 60, tendo até sido escolhido como personalidade do ano pela revista Time em 1935.

No final do seu reinado, na década de 70, possuía um ministro dedicado a alimentar seus leões, um só para anotar as suas ordens e um outro que cuidava das almofadas sob seus pés. Possuía no seu palácio na capital Addis Ababa vários animais selvagens, e era sempre visto na presença de guepardos, leopardos e leões.

Seu nome de batismo é Tafari Makonnen. Casou-se com a filha do imperador Menelik II, tornando-se Ras Tafari (príncipe Tafari, em aramaico). Com a morte da imperatriz Zewditu, sua antecessora, tornou-se o novo imperador, ganhando o nome de Ras Tafari (príncipe Tafari, em aramaico). No Ocidente, a figura de Selassie foi adotada por um grupo de jamaicanos que o transformou em Deus da religião Rastafári e as cores vermelha, verde e amarela de bandeira etíope são cultuadas até hoje.
[update: 28/abril/2016, de acordo com informações de comentários (obrigado, Marcos!)]

Leopoldo II

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O ponto fora da curva dos ditadores africanos: Leopoldo II foi o rei da Bélgica de 1865 a 1909. Megalomaníaco, planejava de qualquer forma a expansão do território belga. Porém, seu país era cercado pela França e pela Holanda. Sem possibilidades de alargar suas fronteiras dentro da Europa, lutou por uma colônia: primeiro, tentou comprar uma província na Argentina. Depois, propôs arrendar as Filipinas à Espanha. Ainda tentou colônias na China, Vietnã, Polinésia e até Japão, sempre sem sucesso. Voltou então seus olhos para a África. O parlamento belga, entretanto, acreditava (sabiamente) que a manutenção de uma colônia era nada mais do que uma excelente maneira de gastar dinheiro sem atender as necessidades de sua jovem população.

Mas uma característica de um maluco é não se deixar ouvir pela razão. Sem o apoio de seu país, Leopoldo II assumiu totalmente a região do Congo para si. Graças a uma série de influências que somente um rei europeu consegue obter, o monarca foi agraciado com uma imensidão de 2 milhões de km² e controle sobre toda a população que lá vivia, tornando-se então um dos maiores conquistadores de terra da história, perdendo talvez somente para Alexandre o Grande e Júlio César.

Leopoldo II tratou o Congo como sua própria fazenda, tendo a escravidão como principal forma de trabalho e todo o marfim e borracha obtidos como suas posses. Seu controle era violento e brutal e a quantidade de mortes atribuídas a ele varia entre 8 e 10 milhões, quase metade da população do Congo na época.

A situação ficou tão incontrolável que, em 1908, o parlamento belga interferiu. Tomou a região das mãos de seu rei maluco, rebatizou o lugar de Congo Belga e diminuiu consideravelmente as violações de direitos humanos. O rei veio a falecer um ano depois, em 1909, sem nunca ter visitado suas terras africanas. Seu cortejo fúnebre real recebeu vaias dos populares.

A Bélgica, entretanto, nunca soube lidar bem com suas colônias, o que acarretou mais tarde a tomada de poder no Congo por Mobutu ou o terrível genocídio de Ruanda.