Goodbye, London! Cheers!

O sol brilhava no sábado, 22 de setembro quando eu cheguei na King’s Cross Station, com uma mala de 30kg, um mochilão de viagem e uma outra bolsa onde carregava o notebook. Uma brisa fria soprava, já anunciando o fim do verão. Pelo menos não chovia, o que, aliado com a visão do Sol, é o melhor clima que Londres podia me ofercer como despedida, depois de quase um ano morando na cidade. Não precisava, Londres… O prazer foi meu. Parti de Londres de trem, da mesma estação que havia chegado 350 dias antes. A impressão ainda é de que eu não conheço a cidade o suficiente… Há tanto pra ver que eu não vi, tanto pra ir que eu não fui e tanto a aprender que eu deixei passar. Um ano é pouco para conhecer Londres. Talvez uma vida ainda não seja o suficiente.

So long and thanks for all the fish (and chips)

Saí, porém, satisfeitíssimo com o tempo que eu passei lá. Imensamente feliz por ter me dado o prazer de morar nessa cidade e com a certeza (da volta e) que eu ia sentir saudades pra cacete.

De Hackney, meu bairro, com uma comunidade judia-ortodoxa de um lado e uma comunidade mulçumana-conservadora de outro, separados por poucos quarteirões. Mulheres de burca e judeus de traje completo, chapéus e peots caindo pelas costeletas dividiam o mesmo bairro, os mesmos parques e (porque não?) os mesmos preconceitos sofridos.

Do transporte público bizarramente excelente, com uma malha que cobria toda a cidade, até mesmo com ônibus noturnos. Nunca foi barato andar por Londres, mas o sistema era tão bom que valia a pena o preço pago. Do onipresente metrô londrino e suas estações centenárias. Daquele cara que montava um cubo mágico enquanto sapateava num vagão. Do artista que tocava sempre “Somewhere over the rainbow” na estação Oxford Street.

De andar de bicicleta aos finais de semana no Hyde Park… No começo do ano era melhor ainda, quando eles fechavam a The Mall Street e era possível ir até o Palácio de Buckingham e além, pedalando pelo meio da rua.

Bike at Buckingham

De Picadilly Circus e seus bares e baladas tipicamente turísticos. Do O’neills e sua música sempre legal. Do futebol no fim da tarde que passava no Zoo Bar. Do pessoal saindo bêbados dos pubs e indo no McDonald’s da Leicester Square, onde nos meus tempos mais pobres, eu me aproveitava das batatas fritas abandonadas em cima das mesas.

Das centenas de parques que se espalham por toda Londres, a segunda grande cidade com o maior número de área verde do mundo. De correr em volta de Hackney Downs, acompanhando a mudança de estações escancaradas nas árvores do parque.

De Camden, lugar dos pubs, shoppings miseráveis e da melhor street food de Londres. Era sensacional sentar numa moto-mesa e disputar sua bang-bang chicken com as pombas que imundam o local.

Das Olimpíadas e de seus voluntários irritantemente animados. De brincar de descobrir “qual esporte pratica e de qual país é aquele cara ali?”. Dos jogos e todo o clima de empolgação que inexplicavelmente dominou a cidade.

Olympic Park

De descobrir como economizar dinheiro no mercado: qual pão e qual manteiga era menos pior, de aprender a comprar aquela porcaria de feijões em lata, de disputar com os mendigos pelos sanduíches prontos quando tinha redução de preço dos mesmos. Do suco innocent, que, apesar de ser mais caro do que o que eu estava acostumado, tinha sempre uma piadinha na embalagem e, por isso eu passei a comprá-lo.

Das histórias que se sobrepõem em todas as esquinas de Londres. Não só as reais, de alguns séculos de reinados, guerras, traições e incêndios, mas também as fictícias, de detetives, bruxos, batalhas e heróis.

De tudo de diferente que acontecia toda hora na cidade. Uma orquestra na Trafalgar Square, um circo se espalhando pela Regent Street, atividades nos parques, shows de todas as bandas e todos os gostos, musicais, mostras de cinema. Finalmente assisti Kill Bill nos cinemas (um e dois, na seqüência). Londres é cultural, para todos os gostos, idades e bolsos.

Do tamanho da cidade e de sua diversidade cosmopolita. Londres tem de tudo e de todos… árabes, judeus, mulçumanos, indianos, chineses, brasileiros… Cheguei até a encontrar ingleses de vez em quando. Nada mais me surpreendia nas ruas de Londres. Se no começo era interessante ver um japonês andando com um terno completo de cor amarelo brilhante, com o tempo se tornou inteiramente comum quando alguém entrava de cartola e jaqueta de couro no ônibus. A moda de Londres é o jeito que você preferir, porque a cidade aceita qualquer coisa.

Vai ser difícil me convencerem que tem algum outro lugar no mundo que é mais legal de se viver do que em Londres.

Eu não costumo prestar agradecimentos por medo de esquecer de alguém que foi muito importante. Mas, em relação à Londres, há três pessoas que salvaram minha vida mais de uma vez durante minha estadia por lá e que qualquer coisa que eu faça não será suficiente para recompensar a ajuda que me deram.

São a Priscila, o Pedro e a Vanessa, que foram de uma ajuda inimaginável, principalmente na minha pior fase, quando eu não tinha emprego, não tinha onde morar, não tinha casa, não tinha roupas de frio e já estava rapidamente ficando sem dinheiro.

Nenhum “obrigado” será o suficiente.