Já convivemos há um bom tempo com a internet. A rede surgiu a partir de pesquisas militares na decáda de 60, no auge da Guerra Fria. Em 29 de outubro de 1969 foi enviado o primeiro e-mail da história. Provavelmente era SPAM ou alguma corrente com um ppt, porque travou o computador que o recebeu. Mas a verdadeira explosão da internet se deu na década de 90. E a internet é realmente sensacional! Conteúdo de graça, pra ser produzido e compartilhado com todo mundo.
Quem nunca espalhou uma piada que leu na internet? Eu mesmo roubava várias piadas do HumorTadela e contava para amigos cada vez mais chateados com minhas inconvenientes piadinhas fora de hora. O HumorTadela, por sua vez, roubava de alguma outra fonte, que por sua vez, roubava de outra e assim por diante. É praticamente impossível definir onde nasce uma piada. Isso é bem comum. Veja Chico Anysio, por exemplo, tido como um humorista genial (e realmente é), iniciou sua carreira no humor simplesmente traduzindo textos de stand-ups americanos. A internet dificultou muito o trabalho de quem rouba o texto de um humorista famoso. Se algum cara do stand-up nacional for tentar emplacar com um texto de Bill Cosby ou do genial George Carlin, acho que não vai conseguir ter muito sucesso. O Brasil está passando por uma boa fase no humor, com ótimos textos autorais escritos por Danilo Gentili, Rafinha Bastos, Marcelo Mansfield, Maurício Meirelles, entre outros. Se você chega em algum churrasco contando aquela do “Boa noite, passageiros, aqui é o Comandante Nogueira”, todo mundo sabe que você não é um babaca criativo, mas é simplesmente um babaca.
Por outro lado, é cada vez mais difícil provar que uma criação é sua. Na internet, as piadas não possuem direitos autorais. É a lei do mais pop. Sites como o Kibeloco cresceram em cima das piadas alheias. E, quando a Web se tornou 2.0, tudo ficou mais difícil: Todo mundo produzindo conteúdo, e muita gente boa produzindo conteúdo bom. As piadas curtas, frases geniais e trocadilhos infames invadiram sites como o twitter, criadas por ilustríssimos desconhecidos, deixando tudo mais fácil para certas pessoas que vivem do humor alheio (né, José Simão?).
Quando eu era pequeno (mesmo, lá pelos meus 12, 13, 14 anos) eu adorava a coluna do José Simão, na Folha. Escrevia vários e-mails pra ele com piadas e, vez ou outra via uma piada que eu tinha mandado por lá publicada. “Olha mãããeeee! O Simão publicou outra piada minha!”, e lá estava no jornal minha piada crua ou simplesmente antecedida de “e um amigo me disse que…”. Beleza! A piada era minha, mas ninguém tinha como saber disso. Parei de mandar. Hoje em dia o Simão rouba, descaradamente, sem trocar uma vírgula, diversas piadas de caras geniais do twitter, como o @silviolach ou o @amatos30. José Simão, inclusive, é um jornalista tão peculiar que consegue escrever um texto usando apenas três teclas do teclado. A primeira é Ctrl. Deduzam as outras duas.
Meu twitter está se tornando meio popular agora também. Para ver a popularidade de uma piada, por exemplo, ao invés de contar a quantidade de RTs, faço uma busca por pedaços da piada no próprio twitter. Vez ou outra vejo piadas minhas em alguns twitters mais famosos sem os devidos créditos. Não fico necessariamente irritado. Dependendo da pessoa, consigo até ficar orgulhoso. Fica só um pouco difícil ver o que dá certo ou não. Como eu vou medir a popularidade de uma piada sem saber por onde ela anda?
Alguns indícios, porém, me levam a crer que minha frase que foi mais longe é esta:
O amor é a gasolina da vida: custa caro, acaba rápido e pode ser substituido por álcool.
Essa piada é velha. A versão original dela é de 19 de abril:
E, como você pode ver, ela é baseada num tweet do @marcelotas, que, por sua vez, retweetou a @flavialippi:
Eu não tinha tantos seguidores na época. A primeira publicação de minha pobre piadinha teve apenas um retweet da minha namorada na época. E eu não imaginava que, tempos depois, tanto o tweet quanto a namorada iam se tornar piadas tão boas.
A piada passou 6 meses no obscurecimento (o tweet, não a menina) até ser resgatada das trevas por mim mesmo num post aqui do Blog (13 de setembro). O post teve uma boa repercussão e recebeu uma quantidade considerável de visitas, aparecendo, inclusive, na home do Uêba. Sucesso! Umas duas semanas depois, eu vi a piada da gasolina da vida em um tweet aleatório. “Ei! Essa piada é minha!”… Fazendo uma busca no twitter pela piada, percebi que muita gente estava retweetando ela! Inclusive alguns grandes twitters de humor (esses eu faço questão de não colocar links), como o Pombo Bebo e até o famosíssimo Café com Bobagem:
O solitário retweet de minha amada ruiva 6 meses antes multiplicou-se na publicação da piada por esses veículos consideravelmente mais populares. Mas a piada não terminou aí! Uma amiga depois veio me dizer que minha piada tinha virado comunidade no orkut:
A piada foi um sucesso. Se tornou uma daquelas frases que ninguém sabe daonde surgiu. Aquelas que em pouco tempo serão referenciadas como “Sabedoria Popular”.
Bom… Talvez não. Qual não é a minha surpresa quando vejo que pegaram minha piada que estava sendo espalhada sem créditos e decidiram dar um autor pra ela. E quem escolheram? Jô Soares? Luis Fernando Veríssimo? Arnaldo Jabor?
Não. Agora a piada definitivamente não é mais minha. A piada agora é de Charlie Harper da sensacional Sitcom “Two and a half men“:
Sensacional! Que orgulho!
P.S.:
Referenciar é sempre bom. Então também o farei aqui. A idéia de um post explicando toda a epopéia de uma piada partiu do Murilo Gun: