MALLANDRO, Serginho. Ao lado da pastinha do “Meus Documentos”, um dos ícones mais marcantes de nossa geração. Ex-jurado do Show de Calouros. Candidato a vereador não eleito. Precocemente eliminado d’A Fazenda. Criador do “Yeah yeah glu glu”.
Vou aproveitar o momento que o Mallandro ainda tá na mídia para contar a história do dia em que eu o conheci – e que faz parte da série de reportagens sobre meus encontros com as pessoas mais influentes do mundo.
O acontecimento se deu durante uma festa open-bar da USP, a qual eu comparecia todos os anos. O nome da festa é “Baile dançante de um amor de primavera” e foi nela que eu tinha assistido a um show do Bozo um ano antes. Naquele ano, ia ser no Aldeia Turiassu, e estava previsto para ter um show de Serginho Mallandro.
O evento era tematicamente brega, o que não foi nenhum empecilho pra mim durante a escolha das vestimentas…
Sei que a festa foi sensacional. Era um open-bar não só de cerveja, mas também de vodka, caipirinha, tubaína, conhaque, maria-mole (a bebida E a comida), bombeirinho, pão com mortadela, catuaba, pé-de-moleque… enfim, um respeitável open-bar. Não vi a entrada de Mallandro, mas o cara entrou (e depois saiu) pela porta da frente, passando na frente de todos os empolgados universitários, cumprimentando a todos, mostrando uma simpatia ímpar. Ele se dirigiu às escadas que levavam a um camarim improvisado, e me lembro de tê-lo visto subindo-as. Lembro também de ter visto depois um rapaz (que julguei que seria da produção) descendo as escadas com uma camisa da Ópera do Mallandro. Sei que na época o clipe-homenagem ao Mallandro tinha acabado de ser lançado. E sabia também que o filme era do produtor musical André Moraes, porque um tempo antes havia trocado algumas palavras com André a respeito de “O Destino de Miguel 2”, continuação do filme que eu já era fã. É um conhecimento pífio, supérfluo e babaca, mas o suficiente para eu chegar para o rapaz pedindo:
“Oi! Eu posso ir falar com o Mallandro?”… O rapaz me olhou com uma cara de quem estava pronto para dar uma ótima e repetida desculpa… algo do tipo “Eu não controlo essas coisas”, ou “o Mallandro é alérgico a camisas floridas, lamento muito”. Por sorte eu tenho uma invejável astúcia embriagada e me adiantei a ele:
“Eu sou amigo do André Moraes!” improvisei eu, apontando a camisa dele, para caso ele não soubesse quem é o André Moraes. Nesse instante, se o rapaz fosse um filho da puta, ele poderia ter perguntado simplesmente “Então qual a cor do André Moraes?” e destruído toda minha mal-planejada empreitada. Entretanto, ele teve paciência com um pobre bêbado e simplesmente respondeu:
“Opa! Pode sim! Mas pode ser depois do show? O Mallandro vai entrar daqui a pouco”
“Lógico que pode! Valeu! Qual o seu nome?” prossegui com audácia, prevendo que eu ia precisar de um nome mais próximo do que do desconhecido André.
“Marcelo” respondeu o rapaz, que se chamava Marcelo.
O show foi sensacional. Espero que o show do Paul McCartney em São Paulo seja no mínimo metade do que foi o show de Serginho Mallandro. Tá certo que vai ser um pouco mais difícil para mim subir no palco e imitar o Paul McCartney, mas eu vou tentar:
Minha amiga Nathalia também subiu para cantar “Lua de Cristal” com o Mallandro… O cara fez piada, cantou coisas de nossa infância e ficou meio constrangido com os gritos de “Mallandro cheirador!” vindo da entusiasmada horda de universitários presentes no local. Contrangidamente também se defendeu das doces acusações de “Mallandro já comeu a Xuxa!” que vinham do público.
Um tempo após o show ter se encerrado, dirigi-me às escadas que levavam ao local aonde Sérgio repousava o descanso dos justos. Fui imediatamente barrado por um truculento segurança de aproximadamente 3 metros de altura e 230 kg de bíceps:
“Não vai subir ninguém”, disse ele (ou alguma coisa parecida)
“Mas eu estou procurando o Marcelo”, respondi humildemente debaixo de meu chapéu sertanejo
“Que Marcelo?” balbuciou irritadamente o segurança como se Marcelo não fosse nada além de um amigo que estivesse gorfando conhaque em um canto avulso da festa.
“O produtor do Serginho Mallandro!” chutei eu, com toda a pompa e garbo de alguém que não tem a menor idéia do que está falando.
“Só um instante então”… Beleza! Ele caiu nessa! Fiquei um tempinho esperando em frente ao truculento segurança com o qual não troquei mais nenhuma palavra nesse tempo. Até que vi o Marcelo no cimo das escadas e gritei “Marcelo”, que era o nome dele e foi a forma de ele saber que eu estava chamando por ele. Enfim… Marcelo fez gestos pedindo pra eu esperar um pouco e depois desceu falando “Pode subir!”. Passei pelo segurança ainda arriscando uma olhada desafiante para o rapaz que estava apenas fazendo o seu trabalho (o dele, não o seu. A não ser que seja o segurança da festa que esteja lendo). Quando estava chegando ao topo das escadas, lembrei de minhas doces amigas… “Calma ae, Marcelo!”, falei ao vê-las no bar perto da entrada das escadas. Desci, chamei a Nathalia e a Isabella, as puxei e, com uma autoridade estupidamente bêbada, falei para o segurança aquela frase que você usa quando está acompanhado e não pode entrar em algum lugar: “Elas estão comigo!”. Evidentemente que eu fiquei me sentindo o pica das galáxias quando o segurança foi para o lado dando espaço para que as duas garotas me acompanhassem.
Sérgio Mallandro foi simpatissíssimo. Conversou com a gente, agradeceu os efusivos elogios vindos de nós três, alegremente tirou fotos (como as que ilustram este post) e até deu autógrafos – autografou a carteira de motorista vencida da Nathalia e um pedaço de camisa do Big X-Picanha pra mim. Entusiasticamente parabenizamos também pelo show.
Não foi só o carisma do cara que me surpreendeu. Outra coisa notável é: puta que pariu, como o Sérgio Mallandro tá velho! Como o cara tá sempre com um boné de lado na cabeça, pulando feito um babaca, brincando, cantando, fazendo e dizendo coisas equivalentes a uma pessoa deficiente mental de 12 anos, acabamos esquecendo que ele é um puta dum velho. De acordo com fontes confiáveis, Mallandro já tem 53 anos! Ele é de 1957! 12 de outubro, mais precisamente. Não me surpreende que o cara tenha nascido no dia das crianças. Talvez ele seja assim porque passou a infância toda recebendo um presente só: o do dia das crianças é o mesmo do aniversário dele, coitado.
Eu realmente admiro um cara como Sérgio Mallandro. Naquele dia, ele saiu do local da mesma forma que entrou: Pela porta da frente, cumprimentando a todos e sempre brincando. Estava torcendo pelo cara n’A Fazenda, apesar de que não estou acompanhando o programa. Mallandro é Mallandro, mas porra, eu tenho mais o que fazer do que ficar vendo um cara dizendo “Yeah yeah Glu Glu” pros bezerros.
Ah! E eu tenho um álbum no Picasa, com outras fotos da festa!