Reza o dito popular que, quando você tiver algo muito importante para ser feito, deve pedir à pessoa mais ocupada: ela encontrará a forma mais fácil e rápida de fazê-lo. A sabedoria contida no provérbio é inexorável; a dificuldade moderna, porém, é encontrar no meio de seu rol de contatos o que for o mais ocupado.
“Estou sem tempo para nada” é a desculpa do século, válida mais para si mesmo do que para outrem. Afinal, perde-se tanto tempo trabalhando, transitando, comendo e assistindo a novela das oito que ninguém mais têm tempo para ir à academia, tocar oboé ou aprender francês.
Pode parecer surpreendente, mas a maioria das pessoas do mundo têm a mesma quantidade de horas em seus dias. Exceptuando-se astronautas em órbita que vêem o sol nascer a cada oito horas e comissários de vôo que fazem viagens transatlânticas e adquirem rotinas bizarras, com dias de 32 horas ou saem de um país e chegam ontem em outro, todos temos os mesmos suficientes 1440 minutos por dia para definirmos o que fazer. A falta de tempo não é, portanto, um problema relacionado à grandeza física, mas sim uma questão de prioridade. O motivo de você não andar de bicicleta no parque é porque você preferiu o happy hour do trabalho; e o seu romance apocalíptico zumbi não evolui porque você definiu que a prioridade maior era assistir a última temporada de How I Met Your Mother.
Quando a pessoa quer, ela encontra tempo. Seja para acordar mais cedo, fugir do trânsito e fazer academia ao lado do trabalho, ou ir um pouco mais longe no horário de almoço para encontrar aquele amigo que não vê faz tempo.
O jovem incauto ainda esbanja orgulhoso suas noites viradas acordado ou por só conseguir dormir três horas por dia, acreditando realmente que é sua forma de aproveitar a vida ao máximo. A maturidade (que nem eu tenho ainda, verdade seja dita) deve fazê-lo perceber que a verdadeira questão não é a quantidade de horas que se dorme, mas sim como usar o tempo em que se está acordado.
Sou a favor, então, de substituir a desculpa “Não tenho tempo pra isso” para “Isso não é minha prioridade”. No fundo, as duas frases representam a mesma coisa, mas a primeira forma faz o interlocutor parecer impotente, como se a culpa toda fosse de algo transcedental, incontrolável. A segunda, porém, pode fazê-lo pensar “Será que estou priorizando as coisas certas?”, que é basicamente o que ele está fazendo: se não há tempo para algo, então é bom que seja porque se está ocupado com coisas mais importantes.
Isso não quer dizer que você precisa ser um maníaco obsessivo por coisas úteis. Às vezes, a prioridade pode ser tomar uma cervejinha com os amigos ou ficar simplesmente sentado no sofá fazendo nada durante algumas horas. No final, você percebe que tem sim tempo livre para voltar a desenhar ou escrever aquele texto pro blog que você vêm adiando faz tempo… Porque eu sei que andava meio sumido, é que ultimamente estou sem tempo pra nada, entende?