O juiz facilmente influenciável

Segue o jogo! Segue o jogo!
Segue o jogo! Segue o jogo!

ATO 1

Um forte apito é soado e a cortina se abre. No centro do palco, um juiz de futebol, camisa amarela e calção preto, cabelo cheio de gel penteado para trás. As pernas flexionadas, uma mão segurando o apito na boca e a outra esticada, apontando com quatro dedos o local da falta.

Entra um outro homem, um jogador vestindo a camisa 7 do time vermelho. Se aproxima do juiz, a mão direita levantada empunhando autoritariamente um cartão imaginário.

Camisa 7 vermelho: Pô! Falta pra cartão, hein, juiz! Pra cartão!

Juiz: É… Talvez tenha sido…

O juiz faz um gesto chamando outro jogador. Entra no palco um outro jogador, o camisa 3 azul, as mãos na frente do corpo simulando um formato redondo.

Camisa 3 azul: Não, professor! Foi na bola, pelo amor de Deus! Foi na bola! Nem falta foi!

Juiz: Não me venha com essa, olha o cara caído ali!

3 azul: Ele se jogou! Eu não fiz nada, professor.

Juiz (virando-se para o outro jogador): Olha aí, ele disse que não foi nada. Vamos dar sequência no jogo então. – (disse enquanto erguia os dois braços simbolizando que mandaria o jogo seguir)

7 vermelho: Sequência? Não, como assim! Foi falta, lógico que foi! Olha lá! Deu fratura exposta! Olha o osso do cara saindo pra fora! – (apontando furiosamente para o canto do palco onde a platéia imagina que esteja o jogador caído)

Juiz (olhando na direção do homem que imaginariamente atua se contorcendo de dor no chão): É… parece ter sido algo sério, foi falta sim! – (disse enquanto apontava novamente a sinalização de falta)

Outros jogadores de ambos os times vão se aproximando, formando uma rodinha em torno do juiz.

3 azul: Peraí, professor! Não, não foi falta não, vamos conversar! Eu fui na bola e o cara se jogou!

7 vermelho: Se jogou nada, porra! Como ele está ali com a fratura exposta então? Olha lá o osso saltando da perna, olha quanto sangue!

Juiz (dirigindo-se para o 3 azul e apontando com o polegar para o 7 vermelho): Bons argumentos! Olha aí!

3 azul: Tá bom, talvez eu tenha acertado nele sem querer! Mas foi legítima defesa!

7 vermelho: Como pode ter sido sem querer e legítima defesa ao mesmo tempo?

3 azul: Ia ser sem querer, mas olha lá, professor: o cara apontou uma arma pra mim, aí eu acertei ele em legítima defesa!

Juiz (dirigindo-se para o 7 vermelho e apontando com o polegar para o 3 azul): Bons argumentos! Olha aí!

7 vermelho: O cara vem me falar de apontar arma, mas quem entrou em campo com uma peixeira na cintura foi ele!

3 azul: Também foi legítima defesa! As declarações do cara na imprensa era que ia destruir a gente!

7 vermelho: Ele falou isso só como réplica por você ter chamado a mãe do nosso treinador de puta.

3 azul: Se a mãe do seu treinador não tivesse passado sífilis para o meu pai, eu dificilmente chamaria ela de…

Cortinas se fecham. Fim do ato 1.