Eu comprei minha ida a Dublin pro St. Patrick’s completamente por impulso – custou 55€. Uma semana depois eu fui reservar hostel e aí vi que todos os hostels já estavam reservados. Legal, hein.
Foi a Rê (oi, Rê!) e a Thati (oi, Thati!) que me lembraram do Igor, que fora barman do The Clock e que estava morando por lá. Eu, como um bom cara-de-pau sem um teto para dormir, entrei em contato com ele pra me abrigar, o que ele me forneceu com muito amor e carinho. (ui)
E numa terça à noite peguei um ônibus até Faro (que é de onde saía o avião) e depois caminhei por mais 6km até o aeroporto, passando por caminhos desertos, trilhos de trem tenebrosos e casas mal-assombradas por cachorros que se irritavam com uma presença humana próxima. Também choveu um pouco no meio do caminho, mas minha situação estava tão ruim que eu nem percebi. Cheguei no aeroporto deserto à 1h da manhã, procurei a cadeira de ferro mais confortável e dormi. Dormir em aeroportos na Europa é, aliás, uma prática muito comum e até mesmo incentivada. Economiza-se dinheiro que pode ser pago em sessões de RPG para correção de sua coluna vertebral posteriormente.
Chegando na Irlanda…
O Igor trabalha como cheff de um restaurante lá. Quando eu cheguei, na quarta-feira de manhã, um dia antes do St. Patrick’s Day, ele ainda não estava, então eu fui fazer um City Tour (em diversas cidades da Europa há empresas que fornecem city tours gratuitos) e depois voltei ao restaurante. E, lá de volta, o agradável recepcionista me disse que o Igor não estaria trabalhando naquele dia. Legal.
Olha lá: eu na Irlanda, com fome, sem ter aonde dormir e meio perdido às vésperas do St. Patrick’s. Lembrei do Ricardo, um amigo brasileiro que conheci em Coimbra, e fui procurar a casa dele. Contrariando todas as expectativas (e algumas normas de segurança, com a ajuda de pessoas que abrem grades de ferro de condomínios fechados para brasileiros que não sabem aonde vão), achei sua casa. De lá liguei pro Igor que, vejam só: estava no restaurante. Quais as chances de ter outro Igor trabalhando no mesmo restaurante e esse outro Igor estar de folga nesse dia? O improvável parece recorrente na vida.
Encontrei-me então posteriormente com ele e tomamos o caminho de casa, não sem antes pararmos para nos abastecer com uma garrafa de vodka (a polonesa Żubrówka – aquela que contém uma folha de capim dentro), uma garrafa do uísque irlandês Bushmills e 12 litros de Guinness (24 latinhas de 500ml).
Dublin
As leis em relação a bebidas alcoólicas na Irlanda são bem restritivas. Não é permitido beber na rua (e um policial brigou e retirou a lata de cerveja de um francês em nosso tour); as lojas só podem vender bebidas até as 22h (e, no dia de St. Patrick’s, só a partir das 16h também) e os bares fecham às 2h. No começo eu ficava pensando como um país tão maravilhosamente embriagante poderia ter leis tão fortes contra a bebida, mas depois de um tempo, eu percebi que isso é para a própria procriação da espécie irlandesa. Se, com tantas restrições, eles já são o segundo povo que mais bebe cerveja no mundo, sem as restrições, o álcool certamente mataria a todos.
A bebida é parte da cultura irlandesa na mesma intensidade que a malandragem é parte da brasileira. O bairro principal de Dublin se chama “Temple Bar” e é composto, basicamente de bares. Quão maravilhoso é isso? É como se o principal bairro de São Paulo fosse a Freguesia do Trânsito ou o principal bairro de Porto Alegre fosse a Vila Biba. E os irlandeses bebem como… bem, como irlandeses. Fiquei muito feliz em chegar na Irlanda e descobrir que todas as lendas sobre esse povo são verdadeiras. Não tenho palavras para descrever minha emoção ao caminhar pelo centro de Dublin num sábado, às 11h da manhã e ver irlandeses absolutamente bêbados virando Guinness atrás de Guinness e já caindo pela porta dos bares.
Além de bêbados assumidos, os irlandeses são absurdamente divertidos e prestativos. Um AA jamais daria certo na Irlanda porque lá os alcóolicos não querem largar a bebida e nem permanecer anônimos. Para fazer amizade com um irlandês é muito fácil: Diga que não gosta dos ingleses (valeu pela dica, Igor!). A verdade é que a Irlanda se fodeu muito na mão da Inglaterra; e os irlandeses ainda estão engasgados com os anos de repressão (apesar da Inglaterra ter tentado usar das Táticas Femininas de Discussão e ter pedido desculpas formalmente e publicamente). Tive o prazer de estar em Dublin em 2011 durante as duas maiores festas irlandesas: o dia de St. Patrick’s e a vitória em cima da Inglaterra no rugby.
…continua…
A segunda e última parte desta eletrizante (pfff) história já está disponível aqui