Mais Cersei, Menos Charlotte

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WILLIAM

O príncipe andava de um lado para o outro, inquieto. O fogo crepitava na ampla sala de música de Buckingham, apesar da primavera já presentear a capital do Império Britânico com temperaturas mais quentes e agradáveis. Os três homens na sala estavam em um silêncio tão pesado que era possível ouvir os bêbados de Leicester cantando do lado de fora do palácio. O piso madeirado rangia em determinado ponto, mas era um barulho menos irritante do que as botas reais do príncipe martelando continuamente ao andar pelo longo cômodo. No centro da sala, um tapete persa vermelho e azul abafava seus passos. Vermelho e azul também era a vestimenta do príncipe, de veludo indiano, lhe caindo perfeitamente sobre o peito ferido das batalhas da década passada.

– Acalme-se, William – disse Charles, sentado calmamente numa das poltronas do outro lado da sala, ao lado do piano, bebericando uma pequena taça de brandy.

– Eu estou calmo, pai! – respondeu William, claramente irritado.

O duque de York estava sentado ao lado de Charles. Ele se levantou e serviu duas taças de brandy, deixando uma na mesa e levando outra até o nervoso príncipe:

– Tome um brandy, vai lhe fazer bem – ofereceu Andrew.

– Não quero beber nada! – disse o príncipe, atirando a taça do outro lado da sala.

– William! – levantou-se Charles, agora enfurecido – você está se comportando pior que o seu irmão! Tenha modos!

O príncipe parou e ficou encarando seu pai, tendo coradas as enormes orelhas vermelhas reais. Ele não conseguia ter medo do pai. A verdade é que desde que Elizabeth, sua avó, assumira o Império Britânico, os homens ingleses não conseguiam mais colocar medo em ninguém. Com a morte de sua mãe, numa expedição francesa, a coroa britânica havia ficado sem herdeiras. Deus punira William com um primogênito homem, que poderia vir a ser um bom gerente de contas ou engenheiro real, mas não conseguiria herdar um reinado. Com o crescimento de poder da dinastia Putin, no Oriente, e o retorno da família Clinton no Ocidente, o Império Britânico precisaria de uma menina herdeira e, desde que sua esposa Kate havia engravidado pela segunda vez, o príncipe ia todos os dias à abadia de Westminster rezar por uma garota.

– Desculpe, pai. Você tem razão. Desculpe, tio! – disse o príncipe, colocando a mão no ombro de Andrew.

– Vai dar tudo certo, William! – disse Andrew.

– Como você pode garantir? – perguntou William, com a voz embargada – E se for outro menino? Como acalmar o povo, que espera por uma herdeira? E se a maldição da tia Anne for real?

Anne era, por direito, a herdeira da família Windsor. Porém, a derrota inglesa de 1962 perante o coronel Garrincha, no Chile, causou uma revolta popular e Anne foi deserdada por sua mãe, acusada de alta bruxaria. Diana, esposa de Charles, que contava com um imenso apoio popular, passou a ser considerada real herdeira. Desde então, Anne se exilou e desapareceu. Dizia-se nas ruas de Londres que ela havia colocado uma maldição em seu próprio irmão para que ele não tivesse nenhuma herdeira. Dizia-se também que a morte de Diana fora uma emboscada armada por Anne, para se vingar da família que renegava. Também era comum o mito de que a Rainha Elizabeth era imortal e esta era uma lenda bem mais aceita, uma vez que ela comandava o Império desde que todos se lembravam. Diziam que ela comandava desde a época dos dragões, e até mesmo os avôs de nossos avôs não tinham mais memória dos dragões.

– Não diga besteira, William! – bradou Charles, suas orelhas enrusbecendo-se fortemente – sua tia Anne há décadas não é vista em nossas terras e essa lorota de maldição é coisa desses grupos populares.

– O que eu vou fazer se tiver outro menino, pai? Ele vai terminar assumindo o ministério dos Silly Walks ou qualquer coisa assim! Os irmãos mais jovens de nossa família sempre acabam humilhados, como o Harry que fracassou até como alquimista em Cambridge ou o tio Edward, que virou conde. Conde, pai! Não quero ter um filho conde!

Charles não precisou responder. Um choro estridente cortou o ar. Os três homens na sala viraram o rosto para a porta, ansiosos. Cada segundo de apreensão parecia levar uma eternidade. Passos se aproximavam do outro lado e a porta se abriu lentamente. A parteira real entrou na sala, sua túnica branca manchada de sangue em diversos pontos, mas com um brilho de esperança nos olhos azuis.

– Com licença, majestade – disse, polidamente.

– Pelos Deuses, Isabel – exclamou William, caminhando até ela, agitando os braços freneticamente – Diga logo! Nosso reinado está a salvo? – perguntou, colocando as duas mãos no ombro da parteira.

– Sim, majestade! – sorriu ela – É uma menina! Uma linda menina!

Charles e Andrew riram e se abraçaram e o príncipe soltou um suspiro de alívio. Se virou para seu pai e com um sorriso no rosto, disse:

– Vai se chamar Charlotte, pai!

O Império Britânico estava a salvo. Os Windsor tinham sua herdeira.


Eu ia gostar muito mais da monarquia inglesa se fosse aquele negócio de tio matando irmão, pai matando filho, corvos enviando mensagens, incestos e orgias, que nem é nos livros…

it_would_be_fun

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@joaoluisjr – João Luis Jr.