Eurotrip pelos Estados Unidos

Continuação direta dos meus primeiros dias em Londres

Mesmo sendo um emprego que não me agradava, a segurança de um trabalho me deu a tranqüilidade e o dinheiro suficiente para procurar calmamente por outro. Sem contar que era muito fácil não fazer nada naquele emprego – até mesmo porque eles não me davam tarefa nenhuma. Eu nem precisava ficar jogando poker online o dia inteiro com a justificativa de estar testando o sistema.

Paralelamente ao trabalho, inciei diversos processos seletivos. Um deles envolveu várias etapas, culminando com um dia final contendo um rodízio de entrevistas, das 10h às 17h. O processo seletivo, porém se mostrou extremamente ineficiente, uma vez que eles chegaram à conclusão de me contratar.

Já que eu me considerava um inútil naquela empresa, abandonei meu emprego no site de pôker antes de terminar meu aviso-prévio (o que eles poderiam fazer? me demitir?). Na minha última semana de trabalho, havia recebido uma ligação do meu futuro/atual emprego perguntando se eu podia ir para os Estados Unidos fazer parte de um treinamento. Era uma quinta-feira quando eles me ligaram. Naquele domingo, 11 de dezembro, eu estava partindo para os Estados Unidos, para passar uma semana em Indianápolis e uma em Raleigh.

Tio Dino
Tio Dino

Forever Alone

Desde meu primeiríssimo final de semana na Europa, quando meu grande amigo Nuno me convidou para visitá-lo em Coimbra assim que soube que eu estava em terras portuguesas, eu nunca fiquei realmente sozinho. Sempre tive alguma companhia para ir tomar uma cerveja no bar ou conversar, nem que fossem descartáveis colegas de hostel. Mesmo durante minha pior fase, no final de outubro em Londres, pude contar com a ajuda do meu amigão Pedro, que eu conheci em Marrocos e que até me pagou umas cervejas nas noites que eu não tinha dinheiro.

Posso dizer então que meu período nos Estados Unidos foi a época mais solitária da viagem. Os escritórios que eu trabalhei ficavam em regiões remotas, longe dos centros urbanos das cidades e os hotéis ficavam perto dos escritórios. Basicamente minha rotina consistia em acordar, ir trabalhar, voltar pro hotel, correr e depois assistir qualquer coisa na divertida programação da televisão americana. Forever alone.

Indianápolis é perdidamente remoto. Lá tudo fica longe de tudo. Acredito que as 500 milhas de Indianápolis consistem em ir da farmácia ao mercado. No último dia ainda consegui um tempo para visitar o centro da cidade, que é até bonitinho, mas fiquei mais tempo na isolada região suburbana, com suas avenidas sem calçada e rodovias com semáforos que ninguém respeita. O destaque de Indiana fica para as rádios: Havia uma rádio só de música dos anos 50 (“50s on 5”), outra só de música dos anos 60 (“60s on 6”) e, como se não bastasse, uma que só tocava Elvis (“Elvis Radio”). Eu ouvia músicas tão boas no carro alugado pela empresa que nem podia reclamar de ter que dirigir tanto.

Raleigh

No total, eu passei um mês em Raleigh – North Carolina. Após o treinamento de uma semana lá, eu voltei à Europa e, logo na primeira semana do ano, meu chefe me perguntou se eu poderia passar mais quatro semanas trabalhando no escritório em North Carolina. Eu prontamente respondi que não, pois teria uma importantíssima corrida no final de janeiro e não podia perdê-la; então fui enviado para North Carolina por apenas mais três semanas.

Raleigh é ainda mais remoto do que Indianápolis – e, por algum motivo, a cidade dá choques. Trabalhei com uma equipe ótima e divertida, em um escritório estruturalmente excelente, – que incluía uma cozinha com refrigerante, Pringles e outros petiscos liberados e um banheiro equipado com papel-toalha com cheiro de queijo, que criava um círculo vicioso em que você lavava as suas mãos, mas elas ficavam cheirando a queijo quando as secava.

As regiões aonde fui alocado não tinham lá muito turismo para se fazer. Em um final de semana eu ainda dirigi por quase cinco horas (e mais cinco horas de volta) para visitar Washington DC – a divertidíssima capital americana. A cidade é cheia de museus, monumentos, praças e marcos importantes e um dia acabou sendo pouco pra conhecer tudo – sem contar que eu passei boa parte do primeiro dia acompanhando a vitória do 49ers em cima do Saints.

The American Dream?

Comparado com a Europa, os Estados Unidos é chato, desorganizado e entediante. Brasileiro só admira os hábitos americanos quando os compara aos seus próprios. Ainda assim, a programação televisiva lá era espetacular. Outro aspecto terrível é a alimentação. Eu já esperava que fosse encontrar comida ruim afundada em banha pura, mas depois de quase um ano me alimentando de pobres refeições européias baseadas em lixo temperado com xurume, não achei que fosse ser um problema. Mas até o pão servido no café da manhã do requintado hotel onde eu fiquei era ruim.

Fast Food
Tem tanto gordão nos EUA que as lanchonetes de fast food já deixam até uma maca preparada para o próximo ataque cardíaco.

Antes de vir pra Europa em busca de nada, uma das opções que eu tinha era passar um tempo nos Estados Unidos. Por infinitos motivos eu escolhi o velho continente e posso dizer que estou satisfeitíssimo com essa escolha. Eu dificilmente agüentaria muito tempo viajando por um país que tem mais lanchonetes de fast food do que bares.