Hoje é dia do corno. É lógico que eu tenho que falar alguma coisa a respeito. Afinal, graças à minha ex-namorada, se você examinar minha árvore genealógica, vai ver que sou eu quem tem os galhos mais salientes.
Pra começar, não sou só eu que mereço ser parabenizado neste tão singelo dia. Traição é uma coisa muito comum por aí. Verdade seja dita, fidelidade é que nem creme de beleza: Só os feios usam.
Mas eu gosto bastante da minha história de traição, porque ela aconteceu de forma bem peculiar. Eu fui traído no dia dos namorados. Pra vocês terem uma idéia de como é ser traído no dia dos namorados, é mais ou menos como não receber presente de natal porque Papai Noel estava dando pra outro. Era uma época que eu trabalhava e fazia um curso de noite. Quando chegou no sábado, 12 de junho, eu ainda não tinha nada combinado com a menina para onde iríamos ou o que iríamos fazer. O que complicou de vez foi o fato de ela estar convenientemente sem celular (porque tinham roubado o celular dela e ela tinha perdido o celular do irmão). Após passar o dia 12 todo tentando entrar em contato com a garota, fiz o que faria qualquer babaca que não consegue entrar em contato com a própria namorada no dia dos namorados: Fui pro bar tomar umas com um amigo. Mas é complicado… bem no dia dos namorados, que eu tinha planos novos: Levar ela aonde eu nunca tinha levado: ao orgasmo.
No dia seguinte, continuei pacientemente em minha incessante tentativa de falar com a garota. Foi só no meio da tarde que a mãe dela atendeu o telefone:
– Alô? Por favor a [moça]?
– Olha, a [moça] não tá não. Ela tá em Santo André.
– Santo André? Desculpa… Você sabe aonde ela tá lá?
– Ela tá na casa do namorado. Ela passa o final de semana lá.
Nesse momento minha mente começou a fazer uns cálculos de matemática bem simples, mas que me levaram a resultados espantosos. Dei ainda uma última conferida em todos os cômodos da minha casa. E eu percebi que aquela coceira na minha testa era, na verdade, algo mais profundo… Mas o problema não foi nem ser traído. O problema mesmo foi ser trocado por alguém que mora mais longe. Aí é foda.
O tal rapaz pelo qual ela me trocou é o ex-namorado dela (e, desde aquele momento, atual namorado também). Ele pode morar mais longe, mas, em compensação, é consideravelmente mais rico (ponto pra ela, trocando lanches no Habib’s por jantares no Fasano). Alguns amigos me dizem que ela nunca deixou de namorar o cara, sendo assim, o outro seria eu. Algumas evidências realmente apontam para a teoria de que eu seria o amante, como por exemplo a reação de surpresa das pessoas quando eu dizia que era namorado da menina. Eu achava que era porque todos duvidavam que uma criatura tão feia pudesse tecer um relacionamento com uma garota tão bonita (ou até simplesmente com uma garota), mas faz sentido pensar que as pessoas conheciam o verdadeiro namorado. Porra, até a linha de trem que eu pegava pra ir na casa dela em Carapicuiba era a linha diAmante!
Mas a gente tem que ver o lado positivo de tudo. Ao ser traído, por exemplo, eu adquiri o pré-requisito básico para formar uma dupla sertaneja. E você, às vezes, tem que simplesmente se conformar e pensar que é melhor dividir uma boa bisteca do que não comer nada. A verdade é que uma traição é um evento muito mais social do que um relacionamento comum. Afinal, envolve no mínimo uma pessoa a mais!
Eu ainda gosto bastante da minha ex. Acho ela uma garota muito gozada. Pelo menos ela conseguiu reciclar minhas piadas por um bom tempo. E piada de corno é que nem vídeo-cassetada: Você só ri porque não foi você que se machucou. Mesmo assim ela fala que odeia minhas piadas sobre o assunto. Não passam de pequenas piadas sobre a grande piada que ela fez comigo. Mas infidelidade é um assunto que ela prefere levar às escondidas. Ela já até falou que, se quisesse, poderia me processar pelas piadas. É… mas se eu morasse no Irã, poderia apedrejá-la por adultério também!
E aproveita o dia para se filiar à santa igreja!