…da freqüência de publicação e cinco blogs recomendados

TL;DR:
Escrever dá trabalho pra caralho e eu não ganho dinheiro nenhum aqui, então é por isso que as publicações estão ficando tão escassas. Porém acredito que eu tenho trabalhado melhor na qualidade dos textos, a despeito de sua inconstância. Mas para quem quiser seguir este blog e o nRT, agora dá pra assinar nossa newsletter.

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Por uma boa época, eu acreditava que o segredo do sucesso na internet era a constância na publicação de uma mídia. Blogs e sites que tinham conteúdo novo surgindo duas vezes por semana ou mais, pontualmente em determinados horários deveriam se sobressair àqueles inconstantes e que passavam meses sem atualização. Não valeria a pena voltar a um blog com freqüência se ele raramente apresentava conteúdo novo.

…aí chegaram os RSS e os agregadores de feed. E bastava se inscrever no RSS (aqui, ó: http://blog.paulovelho.com.br/feed) para ter sempre o último conteúdo atualizado…;
…aí o Google Reader morreu, o Digg Reader não conseguiu forço o suficiente pra tomar seu lugar, e os RSS foi decaindo…;
…aí eu tentei lançar um livro, foi um fracasso, eu me desempolguei e parei um pouco de publicar coisas…;
…aí eu comecei a me envolver com um monte de outros projetos, publicações e acabei deixando o blog meio de lado…;

Mesmo tendo parado de publicar, em momento nenhum deixei de escrever. Mas eu mudei bastante o meu método. Ao contrário do caminho que o jornalismo vem seguindo, de proporcionar textos cada vez mais rasos e curtos, eu adquiri um gosto particular sobre pesquisas aprofundadas e textos complexos e gigantescos. Por deus, até este singelo post, que era pra ser uma desculpa esfarrapada sobre a falta de atualizações e algumas dicas de leitura enquanto eu estou ocupado acabou tomando dimensões odebrechtianas.

Assim, não é exagero dizer que um texto meu leva meses para ficar pronto. Textos do nRT envolvem leitura de artigos científicos, experimentos, entrevistas com especialistas, às vezes até a construção de simuladores. Outros textos acabam na fila para publicação em alguma mídia e, por respeito, não chegam no blog. Outros ainda, acabam ficando tão grandes e complexos que ficam simplesmente armazenados aqui, esperando uma revisão para, quem sabe, um dia serem publicados diretamente no formato de ebook, que seria bem mais apropriado para o tamanho deles. É nesse pequeno limbo que residem os cadernos expedicionários da África e estudos aprofundados sobre não-países, incluindo as minhas deventuras na Georgia (aonde eu jamais poderei voltar devido a um processo civil contra mim. qualquer dia essa história vai acabar publicada).

Ao mesmo tempo, tenho estudado bastante estruturas de roteiro, cinema, assistido a algumas séries – e minhas opiniões e críticas acabam no medium “Ninguém Perguntou“, o qual não é muito divulgado simplesmente porque eu não me importo com ele. São basicamente anotações pessoais frutos do meu desejo de escrever um romance de ficção num futuro próximo.

Mas fica difícil para quem segue meus textos (tem gente que segue, cara!) saber quando há novidades. Por isso agora há aqui um novo sistema de newsletter para notificar potenciais seguidores sobre novos textos aqui, no nRT, publicações externas, e outros projetos pessoais supostamente interessantes.

É uma conseqüência de meu próprio comportamento: muitos dos blogs que eu sigo possuem suas próprias newsletterers (é esse o plural, né?) e, mesmo sendo uma forma extremamente arcaica de atualização de conteúdo, ela ainda é extremamente eficiente. Principalmente em casos como o meu, aonde as atualizações são extremamente inconstantes e os textos tendem a ficar ridiculamente gigantescos.

A carência de atualizações e o tamanho dos textos não me incomoda. Principalmente depois que eu percebi que os meus blogs favoritos são compostos de textos grandes publicados aleatoriamente.

Pensando nisso, criei uma lista dos meus cinco blogs inconstantes favoritos:

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What if?

https://what-if.xkcd.com
por Randall Munroe

Sou há algum tempo um grande fã do Randall Munroe e do XKCD, com suas tirinhas científicas complexas. O cara é formado de física e trabalhava na divisão de robótica da NASA antes de largar tudo pra se dedicar a fazer tirinhas com bonecos-palito. As tirinhas são mais freqüentes, mas é o what-if a grande sacada de Munroe.

Há um tempo atrás, eu ganhei o livro “What If?: Serious Scientific Answers to Absurd Hypothetical Questions de presente de dois grandes amigos que provavelmente nem sabiam da minha paixão pelo Munroe, mas acharam que a obra combinava comigo. E realmente ele foi a principal inspiração para o nRT: responder perguntas estúpidas da forma mais cientificamente acurada possível.

É basicamente isso que ele faz no “what if?“: cálculos tão complexos quanto bizarros. Quantos vagalumes são necessários para sua luz se equiparar à do Sol? Tá lá. O que aconteceria se todas as pessoas da terra pulassem ao mesmo tempo? Tá lá também. Como fazer um trem de passageiros dar um loop vertical? Bom, você entendeu.

Links:
É foda recomendar algo porque tudo o que o cara escreve eu acho interessantíssimo. Então eu recomendo de novo o livro.

While researching this answer, I managed to lock up my copy of Mathematica several times on balloon-related differential equations, and subsequently got my IP address banned from Wolfram | Alpha for making too many requests. The ban-appeal form asked me to explain what task I was performing that necessitated so many queries. I wrote, “Calculating how many rental helium tanks you’d have to carry with you in order to inflate a balloon large enough to act as a parachute and slow your fall from a jet aircraft.”

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Wait but why

http://waitbutwhy.com/
por Tim Urban

O wait but why mistura humor, ciência e filosofia de forma magistral. Os artigos geralmente têm algum background científico e se aprofundam no tema de forma tão intensa que constantemente remetem à origem do Universo. Ao falar de carros elétricos, por exemplo, ele começa explicando a história da energia, sobre como a cadeia alimentar é simplesmente baseada em aquisição de joules por parte da vida. Profundo, filosófico e educativo. “New posts every sometimes” é um excelente moto também.

Um grande fã do wait but why é Elon Musk. Tanto que em 2015, ele entrou em contato com Tim Urban, no que gerou uma maravilhosa série de posts sobre as tecnologias desenvolvidas pelas empresas de Musk e sobre o futuro da humanidade.

Em 2016, o site promoveu o evento global “Wait but Hi“, aonde todos os assinantes da newsletter no mundo foram contactados e convidados para um mega encontro global. Foram divididos em grupos e a cada grupo foi designado um administrador e uma atividade diferente que só seria conhecida pelo resto dos participantes assim que chegassem. Poderia ser um jantar, jogo de queimada, cervejas num parque. No meu grupo em Berlim, nos juntamos em um parque para ver o céu com telescópios e depois nos juntamos a outro grupo para cervejas.

Links:
este aqui, sobre os planos do Elon Musk para a colonização de Marte é o relato mais acurado e completo da missão. E, como o Tim Urban acabou ficando amigão do tio Lô, vale a pena ler a série de artigos sobre as tecnologias desenvolvidas pelas empresas do cara: aqui ou aqui, pela amazon.
Mas, se quiser começar com algo mais leve e tão reflexivo quanto, este daqui sobre a temeridade da vida é uma boa introdução ao estilão do cara.

…On one of my solo trips, I was out in the Rio nightlife district of Lapa and met two extraordinarily friendly dudes. They really liked me, so much that they invited me to a nearby house party.
A random Brazilian house party! I had no idea what a Brazilian house party was like, and I was super excited to find out. Luckily for me, I had found two guys who just really like befriending random foreign dudes and bringing them to parties.
Then we went to the party, which turned out to be us standing on a silent street a few blocks away from the crowded area while they forcefully took my things and ran away. Interesting party, but they had a better time than I did…

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Melting Asphalt

http://www.meltingasphalt.com/
por Kevin Simler

Se o wait but why é científico com um viés filosófico, o melting asphalt é filosófico com um viés científico. Kevin Simler é formado em filosofia e computação e as duas áreas sempre andam juntas nos textos do cara.

Por conta disso, os temas são sempre interessantes e, mesmo sendo altamente esclarecedores, alguém com um background científico provavelmente vai terminar de lê-los mais confuso do que começou. Mas isso é só porque o ponto de vista que o texto coloca te faz prestar atenção em coisas que você não imaginaria que precisava prestar atenção. Psicologia também está sempre presente: ele constantemente dá exemplos da vida animal para explicar porque nos comportamos de determinada maneira.

Links:
Doesn’t Matter, Warm Fuzzies, um texto aprofundado sobre rituais e por que os praticamos (além de ter um dos melhores títulos que eu já vi). Mas para abrir mesmo a mente, recomendo este daqui, que explica porque algumas coisas são mais significativas do que outras.

Supposing there’s no ultimate, objective, metaphysical thing called meaning, we might instead approach it as a certain feeling or perception that people have toward the objects, events, and experiences in their lives, or toward their lives as a whole.
We’re all of us, nihilists included, familiar with this feeling. We all know that a wedding, for example, feels more meaningful than a random Wednesday at the office. Or that a letter from an old friend holds more meaning than an electric toothbrush (even though the latter is more useful). We feel meaning when standing in front of a national monument, but not when waiting in line at a grocery store. […]
So: meaning isn’t a substance, but rather a feeling. In this way, it’s a lot like beauty. Both are more-or-less subjective experiences that we perceive in response to external cues. […]

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Contraditorium

https://contraditorium.com
por Carlos Cardoso

Carlos Cardoso é meio que famoso na websfera brasileira por adorar uma provocação e por bloquear todo mundo no twitter pelos motivos mais banais. Mas é inegável que seu blog Contraditorium é interessantíssimo e incrivelmente bem escrito.

O cara fala sobre história, política, tecnologia, séries e filmes, futurologia, quadrinhos, arruma briga com ciclistas, critica o programa espacial brasileiro, exalta mulheres que lutaram a segunda guerra ao mesmo tempo que é atacado por feministas… Ataca de forma magistral os “Social Justice Warriors“, usando lógica e argumentos, talvez por isso acaba ficando meio impopular.

Ele já publicou dois livros (grauitos) muito bons: O Buraco da Beatriz, sobre histórias de guerra e Calcinhas no espaço, sobre a importância das mulheres na conquista espacial (e mesmo assim, ele ainda é considerado um anti-feminista por conta de suas opiniões políticas).

Recentemente ele decidiu dedicar-se um pouco mais ao contraditorium que começou a receber atualizações mais constantes.

Links:
Às vezes o texto é simplesmente sobre um acontecimento histórico interessante, como este sobre a única vez onde uma divisão inteira se rendeu durante a Segunda Guerra (spoiler: foi uma jogada brazuca). Constantemente ele provoca e faz pensar, como neste daqui, aonde ele compara as declarações do Malafaia com as declarações de seus mais distantes opositores, mostrando como ambos, no fundo, dizem a mesma coisa.

No Iraque e no Afeganistão cachorros não são bem-vistos, muçulmanos radicais os consideram animais impuros, então a vida de cão deles é pior que a média. Atraídos por comida muitos foram parar nas bases americanas. Outros foram levados por soldados, que achavam filhotes perdidos durante combates. Preocupado com doenças e higiene, o Pentágono mandou exterminar os animais de estimação em posse dos soldados.
Quando a ordem chegou quase todos os comandantes se recusaram a cumpri-la, foi o mais próximo de um motim que as forças armadas chegaram em muitos anos, com mais de um soldado dizendo que quem encostasse no cachorro do pelotão levaria chumbo.

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Just Wrapped

https://justwrapped.me/
por João Baldi Jr

Pra terminar com algo leve e descontraído: João Baldi Jr já é meu cronista favorito. O cara é um Luis Fernando Veríssimo da geração X, escrevendo sobre o cotidiano besta que a gente vive, colocando redes sociais, constrangimentos comuns, futebol e aquele approach maroto nas gatinhas nos seus textos. Com uma escrita divertida e um espírito carioca, ele é simplesmente foda.

Links:
Vale a pena ler este daqui, extremamente cotidiano, sobre um jovem seguro de si comprando camisinhas e este daqui, inspirado numa música do Flights of the conchords

E lógico, ele tem o melhor twitter da rede.

até que vem ele, claro. sim, ele. o fera que, diante da sua situação complicada, diante do seu momento de dor, diante de um contexto em que você tá possivelmente usando calça jeans da sua namorada numa cidade estranha ou se preparando pra digitar novamente 80 páginas sobre como as mudanças que o super-homem sofreu durante os últimos 50 anos refletem a sociedade norte-americana desse mesmo período, acha que a melhor solução é te dar a chamada dica retroativa. não, ele não vai te recomendar um técnico. não, ele não vai falar do balcão da infraero. claro, ele nem vai mencionar seu jorge, encanador barateiro, que cobra praticamente o preço de custo porque na verdade trabalha pra não ficar sozinho em casa. nada disso. ele vai parar na frente do computador dele, estalar os dedos, ver a caixinha do facebook e digitar “você devia ter feito backup desses arquivos”.

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