Em 1959, o escritor John Howard Griffin, consultou um dermatologista. Foi-lhe prescrito uma seleção de drogas, cremes dermatológicos e tratamentos para que sua cor de pele fosse alterada. John queria vivenciar na própria pele (literalmente) como era ser negro no sul dos Estados Unidos. Ele passou meses viajando por New Orleans e Mississipi e suas experiências foram descritas no livro “Black Like Me”, lançado em 1961.
A dedicação incondicional a uma experiência não é novidade no campo jornalístico-literário. Um dos primeiros ícones desse tipo de gênero aonde o autor se envolve completamente dentro do assunto estudado é Nellie Bly. Em 1887, a autora, usando o pseudônimo de Nellie Brown fingiu-se de louca, foi julgada insana e internada no hospital psiquiátrico Blackwell, em New York. Uma vez lá dentro, a autora parou imediatamente com sua atuação e se comportou da forma mais lúcida e natural possível, mas sem que fosse identificada com jornalista. Foram dez dias dentro do hospício, relatando todos os maltratos sofridos, as péssimas condições que se encontravam os pacientes e histórias fantásticas, de internos aparentemente mais sãos do que eu. O resultado se transformou em um aclamadíssimo artigo entitulado “Ten days in a mad-house” (de leitura altamente recomendável, podendo ser encontrado aqui) e chamou a atenção das autoridades para a forma como New York tratava seus loucos. No ano seguinte, Nellie lançou o artigo Around the world in seventy-two days, aonde ela se dedicou a reproduzir a obra de sucesso de Julio Verne e dar a volta ao mundo em oitenta dias (o ano era 1888). As experiências de Nellie a consagraram e marcaram definitivamente o estilo de jornalismo participativo.