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Aceite

Quando o fio dourado o prato atinge,
deves ter notado meu tamanho deleite,
uma indiferença teu semblante finge.
Desprezo. Desforro. Ignoro. Aceite.

Ganha brilho a batata, antes apática.
Antes cansada, agora altiva.
Sua face raivosa, antes simpática.
Antes te olhava, agora oliva.

“Chega deste óleo!”, desembestas a gritar.
Dou de ombros, ignoro, sem sequer me importar,
o azeite ainda cai, como se fosse nunca parar.

No tomate, no peixe, em cada folha de salada,
até mesmo no vazio, onde no prato não há nada.
Te desprezo. Te ignoro. E você enciumada.

Imploras aos céus, e eu também cá confuso:
Não sei por quê que eu te faço este mal,
contigo, e com o azeite, que cometo este abuso.
Não quero vinagre, não me importo com sal.

Seus olhos, tão lindos, já seguram o choro,
me dizes “o colesterol ainda vai te matar”.
Te ignoro. E aos poucos para ti eu morro.
Te deixo bem antes da minha vida acabar.

“É extra virgem”, me escapa um sussurro,
seu olhar fuzilando meu comentário tão burro,
o azeite caindo nas batatas ao murro,

pingando pelas entranhas da polpa cozida,
encharcando em óleo toda aquela comida.
E eu sinto você, a fugir de minha vida.

Levanta-te raivosa, batendo na mesa,
derrubando o vinho, quebrando a taça.
Marchas pra fora, com tanta certeza.
O azeite acabou, não há mais o que eu faça.

O peixe flutua no líquido viscoso.
Sua ausência agora me vêm tão à tona.
Tento focar em meu prato gostoso,
ao menos honrar esta nobre azeitona.

Te ouço a xingar, bater pernas na sala.
Com uma boa garfada, minha boca se cala.
Te vejo na sombra, a arrastar tua mala.

Rebato a gordura com um copo de leite.
Tu sais pela porta, sem que eu pleite.
Te ignoro, mas choro. Eu aceito. Aceite.