Um pouco mais renegada do que sua irmã com todos os braços, as Para-Olimpíadas ocorrem desde 1960. No mesmo país sede e depois das Olimpíadas, o evento é uma amostra de superação humana, com competições envolvendos atletas deficientes, sem braços, pernas, cegos, anões, com problemas mentais e fãs de Crepúsculo.
É inspirador e interessantíssimo assistir essas pessoas fazendo coisas que eu não conseguiria fazer nem se tivesse o dobro de braços que tenho. Nadadores e corredores sem pernas ou atiradores de flecha sem braços. Faltou as competições de tiro ao alvo para portadores de Mal de Parkison, mas isso deve ser incluído nas paraolimpíadas futuras.
Fui então no ExCel Arena em Londres para poder acompanhar as provas, em um dia de competição. Comprei um “day pass” que me dava direito a acompanhar todas as modalidades que estivessem em curso na arena no dia. Comecei então pelo tênis de mesa, simplesmente porque era mais perto da entrada.

Oito mesas de ping-pong estavam dispostas no estádio, com partidas ocorrendo simultaneamente. Dividido por categorias, algumas mesas com menos espaço livre eram dedicadas aos competidores em cadeiras de rodas. Quando entrei, um anão coreano disputava contra um holandês que parecia ser albino. Alguns jogos começaram pouco depois, incluindo um jogo muito dinâmico entre um atleta da Suécia e um da Áustria – ambos sem uma das mãos. Perto deles, um chinês com dificuldades de locomação jogava contra um espanhol sem qualquer deficiência aparente – devia estar lá por ser judeu ou algo do tipo.

Assisti depois algumas lutas do divertidíssimo judô para cegos, que eu com certeza desfrutaria muito mais se soubesse o que é um ippon. Eu pude acompanhar lá também três lutas de judocas brasileiros, nas quais em apenas uma a República das Bananas saiu vitoriosa. Mas a judoca acabou sendo eliminada na fase seguinte – até nossos atletas cegos tiveram dificuldades em ver a cor do ouro em 2012.
O mais legal do dia, porém foi assistir Sitting Volleyball. Eu já tinha gostado de ir assistir as partidas de vôlei indoor durante as Olimpíadas e foi muito divertido a versão sentada do esporte. Surpreendentemente, é possível salvar a bola com os pés no jogo, o que me leva a crer que, na partida que eu vi, o Irã só ganhou da China porque tinha um maior número de pés no time.

Eu ainda tentei assistir o Powerlifting, que estava acontecendo no mesmo local no dia, mas, por algum motivo, havia uma fila enorme para entrar no ginásio da modalidade e os lugares estavam esgotados. Fiquei ainda um tempo apreciando o maravilhoso complexo do ExCel Arena, que nas Olimpíadas também abrigou as provas de lutas, table tennis, esgrima e levantamento de peso.
Já vale a pena acompanhar as para-olimpíadas só pelas histórias de superação. Mas eu também achei os jogos divertidos e interessantes além de ser o único evento onde a fila de deficientes geralmente está maior. Os jogos deste ano trouxeram histórias como a de Alessandro Zanardi e cenas maravilhosas como a decepção dos comentaristas vendo um brasileiro desbancar o favorito nos 200m para amputados:
(se não quiser ver o vídeo todo, assista entre 3:00 e 3:30)