Ninguém entra, ninguém sai

Duas semanas antes do início das Olimpíadas, eu desembarquei no aeroporto de Heathrow, voltando de uma viagem de trabalho. Eram 22h10 quando o avião pousou, mas eu só fui sair do aeroporto depois da meia-noite (um processo que eu costumo levar 15 minutos em viagens pela Europa).

Além de uma longa espera com o avião parado na pista esperando um lugar para estacionar, havia uma enorme fila na UK Border – e olha que eu sou um cidadão europeu; na fila dos pobres mortais era possível ver uma placa dizendo “Tempo de espera estimado: 90 minutos a partir deste ponto” após algumas curvas de mata-burro.

Estimated waiting time: up to 90 minutes

Esse caos era esperado até pela empresa aonde trabalho. As regras para os funcionários alocados em Londres é o corte completo de viagens. Como uma multinacional com forte atuação em toda Europa, sempre foi muito comum viagens internacionais, mas durante o período das Olimpíadas nenhum funcionário entra ou sai de Londres – tanto pelo preço das passagens quanto pelo transtorno logístico que provavelmente seria causado.

Para fugir do caos, muitos londrinhos haviam planejado as férias durante o período olimpíco. E isso até gerou uma campanha muito controversa da British Airways intitulada “Don’t Fly”, pedindo aos ingleses que não viajem e fiquem apoiando o time inglês:

Uma companhia aérea está pedindo para que as pessoas não viajem. Esse é o catastrofismo londrino.

Catastrofismo

O catastrofismo europeu é equivalente ao otimismo brasileiro.

Caboom!

Os ingleses estão em pânico. As previsões são de até meia hora de atraso nos trens e metrôs e terríveis trânsitos de duas horas nas principais vias da cidade. Sejamos sinceros: meia hora de atraso nos trens e duas horas de trânsito é uma visão muito otimista no dia-a-dia paulistano.

Londrinos temem que a lotação das estações de metrô cheguem a aproximadamente um terço da densidade demográfica da estação da Sé em qualquer manhã de terça-feira útil.

Outra catástrofe olímpica foi no orçamento. A previsão inicial de £4,2 bilhões alcançou £8,4 bilhões, num rombo de 100%. O Brasil assistiu um aumento de mais de 1000% no orçamento dos Jogos Panamericanos (previsão de R$390 milhões e valor final de R$ 3,5 bilhões) e os aumentos nas obras da Copa seguem crescendo mais do que conta de pastor evangélico.

Para nós, um rombo de apenas 100% em nossas contas é um otimismo quase impossível de se alcançar. Eis o catastrofismo europeu.